quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Um Homem mago, rei do baião.

Sintese das palavras proferidas por Ulisses que preparou e conduziu o momento celebrativo/mistico no dia 02.08.08 - Aniversário de morte de Luiz Gonzaga - No Complexo Cultural "O Gonzagão".

Acredito que é necessário antes de qualquer coisa olhar, ver, observar e apreender o que se vê, o olhar como linguagem e lugar, um olhar relacional (cosmovisão). Deixar de fazer discursos vazios, palavras soltas e muitas vezes desnecessárias (falar menos e sentir mais).

Como diz o véio Lua “vai olhando coisa a grané, coisas que pra modé ver o cristão tem que andar a pé”. Então temos duas marcas imprescindíveis o olhar e o caminhar, na obra e na essência de uma ideologia popular e libertária de quem sabe ver o genuíno e o profundo. Olhar apaixona e o caminhar promove encontros.

Com que olhar podemos contemplar a obra do rei do baião, Luiz Gonzaga? Bom procurei resposta e só encontrei a subjetiva pessoal para vê-la com a emoção e todo o meu ser (deixa-se tocar), como o mesmo fez com relação à Vida, a sua e a do povo. E percebo-o como cantador e (dês)velador da realidade nordestina, simplesmente falou daquilo que por ele era vivido e sentido (o cotidiano como sinal de esperança), apresentando a dor e a superação da mesma, caminho igualmente vivido por tantos e tantas pessoas da nossa gente nordestina que sobe e desce, que entra e saia, anda e corre pelas ruas no contínuo êxodo pela sobrevivência, resistência que ora chorando, ora sorrindo, faz valer a liberdade num processo constitutivo de filhos e filhas de Deus.

O nosso Gonzagão tem um traço dorsal inspirado na religiosidade popular, pois como o povo (principalmente de origem rural) busca a benção divina para suplantar a saga da miséria que é imposta a essa gente, força essa que alivia e faz gerar esperança no dia da bonança: “Quando o verde dos teus olhos Se espalhar na plantação Eu te asseguro não chores não, viu Que eu voltarei, viu Meu coração”. É uma acolhida da liberdade por nada ter, não gastam esforço para manter grandes estruturas, no sentido de não acumular “poder e prestígios”. “Quando batem às seis horas de joelhos sobre o chão/ O sertanejo reza a sua oração/ Ave Maria Mãe de Deus Jesus/ Nos dê força e coragem
Pra carregar a nossa cruz”


Outra característica interessante é compreender a tradição (cultura) como luz para a saída da crise de orientação e referencial de Vida, fazer memória do passado para iluminar o presente e recobrar valores como a irmandade, partilha. Sabendo claro da dinamicidade da cultura e sua contradição que se faz sentir na própria vida do povo que é esperto para sair das situações de agruras e também se necessário for oprime o seu semelhante que se encontra na mesma situação.

Buscar as luzes e recorrer ao interior e mais profundo de cada individuo, olhando atentamente a vida que corre independente da gente e sempre pulsa, mesmo sendo ameaçada. Caminhemos com esses sentimentos e lembremos sempre: “Minha vida é andar por este país pra ver se um dia descanso feliz. Guardando a recordação das terras onde passei...”


Ulisses Willy Rocha de Moura
Educador popular, missionário e Cientista Social
willyedupop@hotmail.com

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