segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Luiz Gonzaga tem merecido memorial

Será inaugurado hoje o Memorial Luiz Gonzaga, construído com a intenção de ser um centro de pesquisa e documentação da obra do cantor e compositor de Exu

José Teles
Antes tarde do que nunca. Finalmente, Luiz Gonzaga, DNA não apenas da música nordestina, mas da MPB como um todo, terá uma homenagem, no Recife, à altura da sua grandeza, com a inauguração hoje, às 19h, no Pátio de São Pedro, do Memorial Luiz Gonzaga. Uma inauguração que acontece no dia em que se completam 19 anos da morte do Rei do Baião. O acervo do memorial divide-se entre documentos (recortes de jornais, fotografias, cartazes, etc), e a coleção de discos lançados por Luiz Gonzaga em mais de 40 anos de carreira. Num arrojado projeto expográfico da arquiteta Cátia Avelar, montado na casa 35, do Pátio, pretende-se que o memorial vá bem além de uma amostra gonzagueana: “O acervo não é composto de peças, como num museu, é muito mais documental, porque o memorial foi construído com a intenção de ser ser um centro de pesquisa e documentação, aberto para estudantes, pesquisadores, e também para os admiradores da obra de Luiz Gonzaga, explica Leda Dias, que o gerenciará.

Parte do acervo iconográfico, material de imprensa e os discos foram preservados graças a paixão que nutria pela arte de Gonzagão um ex-vigia do Grupo Votorantin, o colecionador e pesquisador Mávio de Holanda. Este acervo foi comprado pela prefeitura do Recife que atendeu à insistência do produtor e “cutucador” da memória pernambucana, Anselmo Alves. Foi ele, inclusive, quem idealizou o Memorial Luiz Gonzaga, como aponta a gerente do novo centro gonzagueano, Leda Dias: “Anselmo foi quem pensou este projeto, por isto vamos até prestar uma homenagem a ele na inauguração do memorial”. Anselmo Alves, que tem estado à frente de vários projetos referentes não apenas a Gonzagão, mas à cultura nordestina de maneira geral, confessa que o caminho foi longo para chegar à conclusão desta obra: “Há nove anos que eu luto por isto, indo de porta em porta, até que a prefeitura atual abraçou a minha idéia. Agora, a missão deste memorial é tentar fazer com que as pessoas passem a ver Gonzaga sob uma ótica moderna”.

Por ótica moderna, Anselmo quer dizer que a caudalosa obra de Luiz Gonzaga não seja apenas reverenciada, mas estudada, analisada: “Tem toda uma indústria que vive de Luiz Gonzaga, gente que vive cantando sempre as mesmas músicas, como também acontece com Jackson do Pandeiro. O repertório de Luiz Gonzaga é gigantesco, no memorial este repertório dele vai estar praticamente todo disponível, este pessoal poderá agora aprender outras músicas” alfineta Anselmo, lembrando que a inauguração do memorial contará com a rara presença de Rosinha, a filha de Luiz Gonzaga, que depois de muitos anos afastada da obra, e da própria família do pai, pela primeira vez comparecerá a um evento deste tipo: “Rosinha foi uma presença forte na vida de Gonzaga, está em capas de LPs dele e, depois que casou, foi se afastando de tudo relacionado a ele. Agora se reconciliou com a memória de Gonzagão”.

Leda Dias contabiliza cerca de duas mil peças na casa: “Além da coleção de Mávio de Holanda, a gente conseguiu bastante material com o pessoal do Parque Aza Branca. A coleção de recortes de Mávio é grande, mas se concentra num período mais recente, anos 70 e 80. Conseguimos no Aza Branca os álbuns de recortes do próprio Luiz Gonzaga, que contêm quatro décadas do que saiu na imprensa sobre ele, quer dizer é toda a história de Gonzagão. Estes álbuns foram digitalizados e vão estar disponíveis para pesquisas.

A intenção é, em breve, disponibilizarmos todas as peças para consulta num site, que ainda está em construção”, diz a gerente do memorial (o endereço do memorial: http://www.recife.pe.gov.br/mlg/). As atividades do Memorial Luiz Gonzaga não serão limitadas às pesquisas ou estudos, ali também haverá debates, oficinas e cursos. “Começaremos com um curso intensivo de sanfona de oito baixos, ministrado por Luizinho Calixto, que terá um mês de duração Escolhemos o oito baixos porque está em extinção, pouca gente se interessa por ele, que é o instrumento-mestre do forró, da música de Luiz Gonzaga, continua Leda Dias. As inscrições para o curso de oito baixos vão de 6 a 14 de agosto. O memorial funcionará de segunda à sexta das 9 às 17h.

Enquanto isso, o idealizador do Memorial Luiz Gonzaga, o serratalhadense Anselmo Alves, aponta sua metralhadora giratória para as famigeradas bandas: “Para mim o memorial é um contraponto a esta fuleiragem music que está aí. Porém, a minha missão de lutar para preservar a memória de Gonzaga termina por aqui, vou partir para outra. Fiz um artigo que foi bem comentado, chamado Quero meu sertão de volta, sei que fui romântico, porque a coisa não tem mais volta, e eu não quero virar herói”.

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