sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Margarida! Dom Fragoso! Alfredinho! Presentes!


















Fonte: www.adital.com.br
14.08.08
Zé Vicente *


Uma Lutadora, um Peregrino, um Profeta. Num mesmo dia, 12 de agosto, festejamo s suas páscoas. Assim poderemos, os amigos e amigas, conhecidos e conhecidas e todo o povo de boa vontade, celebrar neste 12 de agosto de 2008, a memória preciosa desta Trindade de nossa Caminhada.

No dia 30 de julho, quando cantei no 1º GRITO DA TERRA-NORDESTE, em frente à Sede do DNOCS, em Fortaleza, foi emocionante, ver aquelas mulheres de preto, cantando comigo a "Canção pra Margarida", música que compus, dois anos após o assassinato da líder camponesa da Paraíba, recordando seu Grito imortal: "DA LUTA EU NÃO FUJO!".

- "Não faz muito tempo, seu moço, nas terras da Paraíba, viveu uma mulher de fibra, Margarida, se chamou! Um patrão, com uma bala, tentou calar sua fala e o sonho dela espalhou!".

Nos dias 8 e 9 de agosto, na cidade de Crateús, cerca de mil pessoas da Cidade e das Comunidades Eclesiais de Base, festejaram, em seu 9º Encontro, os 44 anos da Diocese, nascida nos dias imemoriais em que o Sopro do Espírito movia a Igreja Católica com o Concílio Vaticano II e trazia para aquela região sofrida do Ceará, seu primeiro bispo com vocação de pastor-profeta, Dom Antônio Fragoso. Por ocasião dos 20 anos,em 1984, morando na cidade, eu compus a marchinha em tom menor: "Chuva nova do Espírito fez brotar em Crateús, na alma do povo pobre, sementes de fé e luz! Um Pastor, feito Profeta, Dom Fragoso, irmão, gritou, que o tempo está chegando,que Deus de nós se lembrou!"

Foi simbólico que o dia 08-08-08 foi de chuva fora do tempo, espalhando pelo velho sertão uma brisa com cheiro de terra molhada, despertando em nossa alma, um misto de saudade e desejo de plantar novas sementes, mesmo que em tempos de muitos templos e queimadas, como cantava o poeta paraibano, Vandré, nos idos de 1968, na ditadura militar brasileira.

O lema do Encontro das CEBs, não poderia ser outro: "Do ventre da terra o grito pela Vida em nosso semi-árido!", desd obrado em oito Tendas de Convivência.

Na tenda em que fui convidado a monitorar, tratamos, com umas 80 pessoas, da Arte-Cultura nas CEBs. O local, a Igrejinha de S.Francisco, aquela onde o Pe.Alfredinho Kunz, peregrino-penitente, também da estirpe dos profetas, comoveu a região inteira, nos dias 09 a 19 de março de 1981, com um jejum e oração e moveu os primeiros passos do Projeto "Porta Aberta ao Faminto-PAF", na grande seca que se abateu sobre o semi-árido nordestino. Ao início da vivência, fizemos o gesto, tão familiar para o povo que conviveu com o Alfredinho: "BENÇA, PE.ALFREDINHO!" Com um instante de silêncio para sentir e atualizar para os novatos a resposta que ele dava para quem pedia sua benção: "DEUS TE FAÇA FELIZ!".

Foi para a primeira romaria da Irmandade do Servo Sofredor, criada por Ele, com base bíblica nos Cantos do Servo, do Profeta Isaías, que eu compus: "Bendita seja esta marcha, dos pobres, dos sofredores, romeiros de São Francisco, de Jesus os seguidores!".

Na Celebração final, Dom Jacinto, o bispo atual de Crateús, iniciou com a memória do seu antecessor, e seu convidado especial para a Festa, o Monge Marcelo Barros, nos deu uma mensagem clara para o hoje das CEBs, com seus membros, animadores(as) e agentes - "... nunca abandonar a marca original da Diocese, que é Martirial e Profética. Nunca abandonar o diálogo, com todas e todos, que pensam e agem diferentes. Nunca perder a opção radical pelo Reino, mas sem nos deixarmos levar pelo sectarismo, que muitas vezes cria impasses e feridas..." Eu vi que havia uma lágrima nos olhos de uma mulher que por todo esses 44 anos é testemunha fiel da missão em Crateús.

E o Evangelho daquela noite falava de Jesus andando sobre o mar revolto, pela tempestade e ventos contrários... (Mt 14,22-32).

Nesse dia 12 de agosto, em que lembramos a memória pascal comum, de Margarida Al ves, Pe. Alfredinho e Dom Fragoso, homenageados em eventos diversos, quero cantar com alegria a mesma Essência que os uniu por aqui - o compromisso com a Vida, a Justiça aos excluídos(as), a paz na terra do semi-árido nordestino e nas ruas das grandes cidades, onde muitos de seus moradores, os últimos companheiros de Alfredinho, moram e clamam. Uma mártir, um peregrino sofredor, um bispo-profeta, "todas as suas vidas pelo Reino da Vida", como lembra bem o bispo poeta Pedro Casaldáliga.

EU sou feliz, por ter sido contemporâneo deles e dela e poder cantar para as crianças e jovens de hoje, o SONHO BOM QUE NOS UNIU!


* Poeta e cantor.

ALI ADIANTE
Zé Vicente
Tantos caminhos andados
tantos shows realizados
tantos olhares brilhantes
tantos abraços trocados
tantos carinhos queridos
tanto passado guardado

Chegamos.
É um outro tempo,
que seja novo!
Um descanso rápido,
um momento prá deitar na varanda
e escutar o bem-te-vi,
cochilar sonhando
com o que há de vir
de belo
de bênçãos
de canções...

Desço
ao meu riacho velho,
existe aí um fio d’água na areia
e avencas singelas na s barreiras!
Acalmo a sede,
contemplo a babugem verdinha
no rastro das chuvas de janeiro.

Silencio,
para sentir o cheiro da terra,
a fala da terra
o espírito da terra!

Reconheço-me
cada vez mais nativo
e todas as vibrações
das árvores, das flores, dos pássaros...
encontram eco em meu corpo.

Quando mais ando
mais retorno para as raízes
deste chão que me gerou.

Pela janela
desta hora
antevejo as bandeiras vivas,
erguidas há séculos,
nos braços teimosos do meu povo!

Vamos lá,
subamos juntos
sigamos juntos
marcando na agenda do futuro
o nosso compromisso
fiel e firme
com a felicidade
que já provamos e sabemos,
que pode estar ali... Adiante!

ZÉ VICENTE
QUEM É ESTE CANTOR?
ORIGENS
Zé Vicente, José Vicente Filho, terceiro dos dez filhos de José Vicente Sobrinho, Zezinho Paraibano, como foi conhecido, e Susana de Oliveira Barros. O pai, como já diz seu nome popular, natural do município de Catolé do Rocha, na Paraíba; a mãe, cearense, do município de Orós.
Foi nessa Família de lavradores, gente simples, festiva, religiosa, apaixonada pela poesia de Cordel e Luiz Gonzaga, que Zé Vicente foi criado, e mesmo hoje, aos 50 anos e muitas viagens a serviço da arte, mantém-se ligado ao seu lugar, sua gente, suas raízes. Nos intervalos da agenda, lá vai ele, 450 quilômetros de estrada, para a roça, no Sítio Aroeiras-Orós, onde está sua mãe, hoje com 76 anos, alguns irmãos, parentes, amigos e sua horta, adubada com cartas recebidas de amigos(as) e admiradores(as), as árvores sobreviventes, as quais chama com os nomes de quem ama.

O ESTUDO

Desde a escolinha municipal, na vizinhança do Sítio Aroeiras, das professoras: Teresinha, Geraldinha, Petrina, até o Curso de Teologia com a orientação do DEPA – Departamento de Pesquisa e Assessoria, em Recife, entre 1981 a 1986, foram muitos caminhos. Concluiu primário no distrito de Guassussê, com provas de Admissão ao Ginásio, em Orós. Todo o Ginásio e 2º Grau foi na cidade de Iguatú, onde esteve plenamente engajado ao Movimento Estudantil, na Pastoral da Juventude. Aí iniciou sua carreira artística, sendo um dos fundadores do Grupo de Teatro Amador – TAI, escreveu, dirigiu e atuou como ator, durante os anos de 1974 a 1979. Neste período, deu seus primeiros passos no contato com o violão e criou seus primeiros versos poéticos de Cordel, poesia popular na Região Nordeste.
Ainda em Iguatú, compôs uma Equipe que produzia e apresentava um programa de Rádio destinado ao público jovem, comunicando poesias, noticias gerais, músicas, cartas, entrevistas etc. O programa: “Juventude em ação”, ia ao ar nas noites de sábado, pela Rádio Iracema de Iguatú. Todo o trabalho era numa visão mais crítica, o que implicou em pressão e conseqüente corte do programa, já que estávamos em pleno regime da Ditadura Militar.
Além do Estudo Escolar, Zé Vicente fez vários Cursos: Iniciação Cinematográfica, na Fundação Pe. Ibiapina em Crato-Ce, de Radialista, através do Sindicato dos Radialistas do Ceará, Curso de Formação Bíblica pelo CEBI – Centro de Estudos Bíblicos, Curso de Verão do CESEP-Centro Ecumênico de Serviço ~Evangelização e Educação Popular, em São Paulo, Curso de Inverno em João Pessoa, na Paraíba, nesses últimos já atuando como artista, cantor e animador.


TRABALHO PROFISSIONAL

Antes de 1988, quando passou a viver profissionalmente como Poeta e Cantor, Zé Vicente, além de lavrador, trabalhou como professor municipal em Orós, como Técnico em Orientação Comunitária, compondo uma Equipe de Coordenação de um Projeto para construção de 450 casas populares em regime de mutirão em Iguatu-Ceará, após as grandes enchentes de 1974.
Trabalhou, oito anos,como Agente de Pastoral, na Diocese de Crateús, nas áreas de Comunidades Eclesiais de Base, Pastoral da Terra e Radialista, produzindo e apresentando programas nas emissoras locais, com a Equipe de Comunicação da Diocese. Nessas área de Comunicação, Zé Vicente, foi criador, juntamente com outras pessoas, de dois Boletins Populares: “CONSTRUÇÃO” em Iguatu e “O ROCEIRO” em Crateús, este, ainda em circulação.
Hoje, a música e a poesia, através de Shows e Oficinas realizadas por todo o Brasil e em alguns países do exterior como a Nicarágua (em 1989), Itália (em 1992), África do Sul(em 2001) é a ação permanente, mas nem por isso, exclusiva na vida de Zé Vicente. Cada vez que retorna das viagens , está lá, na roça onde nasceu, na sua horta, revolvendo a terra-mãe, produzindo cartões ecológicos e animando os parentes e vizinhos para se organizarem, e buscarem juntos novas relações com a natureza e com os outros. Cultivando frutos e poesia, música e novas alternativas de vida.

CARREIRA ARTÍSTICA

A poesia está presente na vida de Zé Vicente desde criança, quando a família, cultivava o costume de recitação de Romances inteiros de Cordel, nas sombras das árvores, em baixo das latadas. Alguns tios e o próprio pai, decoravam partes ou textos integrais dos livretos de Cordel que eram recitados com vibração e graça à luz de lamparinas e de fogueiras.
Na Escola, desde cedo, Zé começou a participar das datas comemorativas, recitando poesias.

Por volta de 1975 a 1979, começou a compor versos. Alguns chegaram a ser publicados:

 “Carta aos Brasileiros”-1978, baseado no documento, coordenado pelo jurista Gofredo da Silva Teles, lançado em São Paulo, exigindo a volta da democracia ao país.

 “Os Direitos das Crianças”- em l979, no ano internacional da criança, publicado pela Editora Vozes.

 “Frei Titto e o Dragão”- em l988, a biografia de Frei Tito de Alencar morto em conseqüência das torturas sofridas ao ser preso junto com outros companheiros dominicanos; publicado pelo CEPE, Centro Frei Tito, em São Paulo.

 “Recado Nordestino”- em 1990, sobre a seca e o uso da mesma por grupos políticos corruptos.

“História do 1º.de Maio”- em l982, contando em cordel o histórico referente a data.

“A Saga do vô Manuel e Mãe das Dores” em l997 e 2001 – narrando em versos as histórias de seus avós paternos, pôr ocasião do centenários de nascimento dos mesmos.
“José de Nazaré” – 2002, para comemorar os 50 anos da devoção ao santo padroeiro da família, que ainda hoje festeja na casa da mãe do Zé, todo o mês de março.
E vários outros poemas.
Na música, Zé Vicente começou a compor e divulgar a partir de 1982, quando morava em Crateús –CE. Desde então gravou:

“Canto das Comunidades”. K-7 com cantos das CEBs.

Músicas: “Baião das Comunidades”, e “Quero ver
Acontecer” gravadas em disco por Paulinas-COMEP.

“Caminhos da América”. Pela Verbo Filmes – SP.

“Festa dos Pequenos”. COMEP, Paulinas.

“Em Canto”. Em K-7. Depois reproduzido em
disco pela COMEP em 1992 – em CD

“Sempre Vida”. COMEP, Paulinas.

“Acorde América”. K-7. Trabalho em sintonia com os
500 anos de colonização da América.

“ZÉ VICENTE, PRESENTE”. Pela COMEP. Disco, CD , K-7.

“PRESENTE, en español”. COMEP.CD


“NÓS”. K-7. Por ocasião da Turnê “Excluídos e
Excludentes” do MARCA, na Itália. MD STUDIO-Ce.

“Sol e Sonho”. CD- música-popular. COMEP.


“Nas horas de Deus, amém”. CD. Benditos populares

“Zé Vicente, Nativo” CD –Paulinas-COMEP

“Tempos Urgentes”- Livro com CD, de poemas. Paulinas.

“CANTAR”- CD para UNICEF, Ceará, canta e dirige a arte.

“Guassussê, Canto da Memória”- compondo oito músicas.

“Dádivas”- CD Celebrativo- Paulinas-COMEP (solo)
Com outros artistas populares.


Além da produção e dos shows, Zé Vicente assessora Oficinas de Arte-Vida, com dinâmicas para sensibilização e capacitação de novos artistas e é um dos membros fundadores do MARCA – Movimento de Artistas da Caminhada, que reúne cerca de 200 (duzentos) artistas de várias modalidades da arte, em vários Estados do Brasil, desde l990.

Cantar com profunda convicção a fé que dá razão a esperança, a solidariedade, a liberdade, a vida, paz, a festa!

Fortaleza-CE, 2004
contato: zvi@uol.com.br

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