quinta-feira, 20 de março de 2008

Olha o Consórcio Cultural aí gente!




A despeito de ainda não ter definindo por completo os objetivos finalísticos e nem o formato organizacional, o Consórcio Cultural do A. Franco e Adjacências já é quase realidade.

O lançamento público aconteceu em 29 de setembro de 2007, quando foi realizada a III Noite Cultural no Complexo Cultural “O Gonzagão”. O evento reuniu dezenas de artistas e grupos culturais emergentes, que se apresentaram para um público de aproximadamente 400 pessoas. Segundo o depoimento de algumas delas, foi possível relembrarem os melhores tempos em que o Gonzagão era uma casa de shows bastante concorrida.





“Gostaria que a nova direção trouxesse de volta os shows que Joe Feitosa {produtor e radialista}realizava com Lairton e outros artistas. Eu vinha com minha mãe e irmãs, faz muito tempo que não venho aqui, gostei muito do que assisti na III Noite Cultural,mas sinto saudade do passado aqui, com Diego, Pholhas, bandas de Forró”. (cf. Relatório de avaliação do público presente a III NOITE CULTURAL. – 29 de setembro de 2007).

A realização da noite cultural confirmou o que disse os dirigentes da Quadrilha Junina Asa Branca que afirmaram semanas antes: “A data de realização da noite cultural é para nos encontrar, comemorar sempre e deixar registrado em mossa memória como a noite da integração cultural do Conjunto Augusto Franco e Adjacências”.



Em termos de gestação, o consórcio começa a se tornar realidade a partir das reuniões realizadas desde maio de 2007, quando assumimos a direção do Gonzagão, com a decisão de promover um modelo de gestão inspirada nos princípios da democracia participativa e do controle social – o que é lamentavelmente bastante citado em prosa e versos, mas pouco implementado efetivamente.

A idéia inicial foi a formar um conselho gestor ou uma associação de amigos ou de usuários. Entretanto, devido às crescentes demandas para apoio financeiro e logístico aos artistas e grupos culturais da comunidade e adjacências, e em razão dos problemas de restrições orçamentárias e da necessidade de investir na capacitação técnica dos agentes culturais, na tentativa de acessar outras fontes de patrocínio, foi aceita a proposta de ampliar o raio de alcance das discussões e ações coletivas.

A partir deste entendimento as reuniões não estariam voltadas apenas para tratar de assuntos internos do Gonzagão, mas também para aspectos referentes às políticas públicas de cultura, à divulgação de espaços/oportunidades para aprimorar o conhecimento na área de gestão e produção cultural, à realização de parcerias dos artistas e representantes de grupos culturais para ações conjuntas, dentro e fora do Gonzagão etc...

E muito foi feito neste sentido, como por exemplo:
* Realização de duas reuniões mensais (em média) envolvendo de 7 a 20 agentes culturais;
* Abertura do espaço do Gonzagão para o ensaio de quadrilhas juninas, grupos de teatro, bandas de forró e grupos de dança (sem burocracia e /ou má vontade);
* Realização de um cadastro de iniciativas culturais do Conj. Augusto Franco e dos bairros do entorno;
* Promoção de quatro rodas abertas de diálogo, encontros cuja metodologia inclui a apresentação de um especialista que apresenta um tema de interesse para quem está diretamente envolvido com o trabalho social educativo com linguagens artisticas (na seqüência é realizado um debate e para concluir uma apresentação artística relacionada ao tema. Como unir juventude e tradição cultural, para o qual foi convidado o professor Paulino e que reuniu 30 pessoas no mês de julho. O legado de Luiz Gonzaga para o povo brasileiro, sob a coordenação do Professor José Augusto, com a presença de 100 pessoas. Como educar crianças e jovens para a paz utilizando as artes e a sabedoria ancestral, sob a coordenação da Caravana Arcoiris, com a presença de 50 pessoas, e Canudos ontem e hoje, sob a coordenação do Pesquisador Enock de Oliveira com a presença de 80 pessoas);
* Participação em oficinas, videoconferência, fóruns etc.. organizados pelo BNB, Ministério da Cultura, Ong Ação Cultural;
* Apresentação em slides do programa Mais Cultura do Ministério da Cultura para os integrantes do Consórcio Cultural com a presença de 20 integrantes do consórcio cultural;
* Palestra sobre o credi-amigo cultural do BNB (o banco financia a juros baixos grupos de 3 a 10 pessoas que desejem dinamizar seu empreendimento cultural. A reunião contou com a presença de 15 integrantes do consórcio cultural);
* Coleta de sugestões visando subsidiar o planejamento das ações culturais em 2007 e para o ano de 2008 no Gonzagão.

Como conseqüência positiva, dentre várias, tivemos:
• A apresentação pela primeira vez de projetos de captação de recursos para organismos governamentais por parte das duas quadrilhas sediadas no Conj. A. Franco (local onde está sediado o Gonzagão). A Quadrilha Luís Gonzaga apresentou projeto para o BNB, e a Quadrilha Asa Branca para a Sid/Minc;



• A criação do grupo cultural Asa Branca, cujos integrantes são jovens egressos da quadrilha junina Asa Branca e cuja organização foi bastante estimulado pelas discussões no Consórcio Cultural. Estreou na III Mostra Cultural e recebeu diversos convites para apresentações gratuitas e com cachê;

• Alguns artistas e grupos culturais passaram a ter a uma visibilidade ampliada em termos midiáticos (jornais, internet, agenda cultural da Secretária de Estado da Cultura);

• Tivemos também o convite para apresentações remuneradas a grupos de dança e grupos musicais que participaram e/ou participam do consórcio cultural.




Perspectivas de futuro.
No decorrer do ano de 2008 pretendemos encaminhar as discussões e organização jurídica da Associação de Amigos ou de Usuários do Gonzagão. A pretensão e criar uma associação voltada para as questões internas do Complexo Cultural, funcionará como um braço administrativo do Gonzagão e cujas potencialidades além do controle social, poderá servir como porta de acesso para realizarmos parcerias e obtermos patrocínios junto a organismos governamentais, empresas e terceiro setor.
Quanto ao consórcio cultural, pretendemos iniciar a discussão de um regimento interno buscando garantir e ampliar o espaço de articulação e mobilização para ações conjuntas envolvendo os agentes culturais que integram o consórcio e com possibilidades de expandir o raio de ação para além do atual território que compreende os bairros adjacentes ao Gonzagão.

Pedras no caminho
É verdade que para atingirmos os objetivos que inicialmente estamos propondo, teremos que afastar muitas pedras do caminho. Em anos anteriores, já tivemos envolvimento com algumas iniciativas da criação de redes e fóruns que encontraram (e ainda encontram) bastante dificuldades e resistências para seguirem em frente. Podemos citar como exemplo a Rede de Agentes Culturais (RAC) estimulada pelo Sebrae, a organização da Rede Provai, apoiada pelo Vereador Magal da Pastoral (em seu primeiro mandato), e Rede Sergipe de Cultura.
Quanto às dificuldades e resistências, que ao contrário do que muita gente pensa, não é somente da parte dos poderes constituídos, vale a pena lembrar alguns problemas registrados na Carta Cultural da Periferia, resultado do I Fórum Popular de Cultura, em 2005:
*É preciso ampliar a quantidade de grupos articulados, através de fóruns e redes para possibilitar maior intercomunicação;
* É preciso superar o estrelismo e o individualismo existente no meio artístico;
* Falta amor próprio e auto-respeito por parte dos artistas e produtores. Um exemplo disso é a falta de iniciativa de muitos artistas e grupos populares, que ficam apenas esperando o financiamento de projetos por parte do governo;
* Sofremos muito com o imediatismo do próprio artista, reconhecemos que precisamos nos organizar mais, e o fórum é o caminho para essa perspectiva de um futuro melhor;
* Há necessidade de unir os grupos para fortalecer as ações culturais;
* A dificuldade principal é buscar pessoas competentes para trabalhar com cultura junto a crianças e jovens;
* É necessário ampliar os espaços e as oportunidades para se obter formação;
* Como conseguir incrementar projetos num ambiente avesso ao patrocínio cultural?
* Como enfrentar o descaso e a desvalorização dos órgãos culturais governamentais que valorizam mais o trabalho dos artistas de fora?

Para concluir, diante de tantos desafios só nos resta dizer como o poeta que: “sonha que se sonha só é só um sonho e sonho que se sonha junto é realidade”. Portanto, a continuidade e sustentação do consórcio cultural será obtido a partir do desejo e do trabalho cotidiano de vários agentes culturais, grupos e entidades que compreendem que apenas com ações isoladas não obteremos sucesso duradouro. Oxalá, essa compreensão já esteja bastante clara para muitos e com isso poderemos evitar aquilo que disse o Ministro Gilberto Gil, em discurso na Câmara dos Deputados em 2004: “(...) Há muitas iniciativas culturais que nascem, e na maior parte das vezes morrem, nas periferias e no interior do nosso país, sem que o Brasil possa se dar conta de quanto talento é capaz o seu povo..”



Zezito de Oliveira - Diretor do Complexo Cultural "O Gonzagão" (de abril de 2007 a julho de 2009)

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