A Caravana Arcoiris Por La Paz, formada por 25 artistas e ativistas altermundistas de diversas nacionalidades, tendo se originado no México no ano de 1996 e percorrido milhares de quilômetros de nuestra América, busca através da arte, da educação ambiental e da espitirualidade de tradição indígena, chamar a atenção das pessoas para a necessidade de (re) construirmos o paraíso que herdamos a partir da compreensão de que a vida é um todo indivisível e que a fragmentação, o isolamento e a mercantilização são as fontes da destruição e do sofrimento que nos impedem de viver e desfrutar a terra como um jardim de mil delícias.
Depois de ter tido a felicidade de ler, em 2006, um dos cartazes da Caravana afixado na sede da Rede Sergipe de Cultura, fui contagiado pela alegre expectativa de poder conhecer todo o grupo. No cartaz, se resumiam os objetivos do projeto: Fortalecer redes, grupos e movimentos biorregionais. Oferecer oficinas e cursos nas áreas, de alimentação saudável, permacultura, ecovilas, eco-educação para crianças e jovens, eco-feminismo, intercâmbio de conhecimentos das culturas indígenas e suas cerimônias, saúde e terapias holísticas, teatro, música, artes circenses, danças circulares, tomada de decisões por consenso e resoluções de conflitos para grupos.
As atividades da Caravana foram iniciadas com uma reunião com representantes de pontos de cultura e outras entidades e grupos culturais que escolheram alguns temas prioritários para palestras, vivências e oficinas.
O inicio dos trabalhos aconteceu com uma cerimônia ecumênica que rememora alguns cantos e rituais de diversos povos nativos desde o Canadá até a Patagônia, permeando, inclusive, a tradição dos nossos pataxós do sul da Bahia, incorporando também cantos e danças dos terreiros. Neste caso, a concha do Centro de Criatividade, lugar em que estava sendo realizada a atividade, tem tudo a ver, porque é um local de remanescentes de quilombos, alguns dos quais estiveram presentes (integrantes da ong Criliber , e alguns moradores da comunidade) com canto, dança e percussão.
Essa forma de interagir com os conhecimentos da população local esteve presente em todo o momento da realização das oficinas e vivências. No caso das danças circulares, por exemplo, os focalizadores da Caravana, em muitos momentos, convidaram aqueles que conheciam os passos das danças e folguedos sergipanos para compartilhar conhecimentos.
Como na música de Milton Nascimento “O artista dever ir onde o povo está” a Caravana foi ao encontro dos moradores do entorno do Centro de Criatividade e apresentou uma sessão de vídeos sobre quilombos dentro da comunidade da maloca e participou de alguns encontros com dirigentes dos setores de cultura, comunicação e gênero do MST para organizar algumas atividades em aliança e se integrar à Marcha do Dia Mundial das Mulheres que o movimento liderou em Aracaju em conjunto com outras organizações sociais.
Segundo Verônica “guacamaya”, articuladora/relações públicas da Caravana, a marcha foi muito linda. E evidentemente como nos outros anos, não poderia deixar de ser um protesto contra o modelo econômico vigente que privilegia a especulação financeira em detrimento das políticas sociais.
Foi também uma afirmação da necessidade de se buscar a igualdade de direitos entre homens e mulheres, o que me fez lembrar um apelo que publiquei no jornal Cinform, em setembro de 1999, cujo titulo era “Fome de Pão e Fome de Beleza”.
O texto propunha unir essas duas dimensões essenciais da vida humana - a dimensão artistico/cultural, feminina, e a dimensão da luta social, masculina - as quais dificilmente caminham juntas: “Motivos para protestar não faltam: terra para plantar, emprego e salários decentes, educação pública de qualidade, casa para quem precisa de moradia, melhor atendimento a saúde etc... Ainda bem que nos restam alguns hectares de florestas não destruídos, alguns rios não poluídos, alguns belos espécimes da fauna e da flora (não sei até quando), algumas belas expressões da cultura popular (...). Por isso, os ativistas sociais precisam urgentemente re(conhecer), valorizar, promover, apoiar (...) aquilo que nós produzimos de melhor em termos de expressões artísticas/culturais, e defender o que ainda resta de nossa rica biodiversidade. Foi isso que faltou para o Grito dos Excluídos ser ainda melhor – um pouco da arte do circo, do teatro de rua, os índios xocós e dança religiosa “toré”, os blocos afros, os atabaques, o rap e a dança de rua, o repente e as músicas de Luís Gonzaga (...)Concluindo, concordamos com o Fora FHC (principalmente por causa da política econômica e por causa da falta de sensibilidade com o drama da violência e da fome) e o Fora FMI (mentor da política econômica em vigor), acrescento também: Fora a Mesmice, a Chatice e a Falta de Criatividade. E como os estudantes franceses em maio de 1968: “A Imaginação no Poder”.
O final da programação oficial se deu no dia 10 de Março, com uma mostra artística e festa multicultural com os artistas e educadores da Caravana e com os de Sergipe. Estes, por sua vez, interagiram participando de oficinas, vivências e palestras durante a semana em que a Caravana se instalou no Centro de Criatividade.
Na semana em que a Caravana esteve entre nós, experimentamos a felicidade do mundo que queremos para nós e para nossos descendentes. E para a realização disso é preciso respeito e diálogo com as diferenças, mas sem esquecer da necessidade da luta contra a desigualdade e contra todo tipo de opressão.
Por ultimo, não poderia deixar de registrar o meu contentamento com a participação de pessoas que convivem em mundos separados e distantes, embora busquem a “felicidade geral da nação”, como os artistas, ativistas dos movimentos sociais e Ongs e participantes de grupos holísticos. Lembro-me da urgência do casamento do céu com a terra, do sol com a lua. Ah! Como precisamos tanto integrar a arte, as lutas sociais e as diversas formas de expressão da espiritualidade.
Enfim, vale deixar um agradecimento para o Ministro Gilberto Gil, que tem a compreensão do que escrevi acima e por isso apóia o trabalho da Caravana através do Programa Cultura Viva, para o diretor e colegas do Centro de Criatividade, que fizeram o melhor para que aquela unidade da Secretaria de Estado da Cultura pudesse cumprir o papel para a qual a maioria dos sergipanos sinalizaram quando escolheram o nome de Marcelo Déda para governador deste estado, e a colaboração voluntária de Marcos, da Ong Ação Cultural, que ajudou a Caravana de diversas formas.
E em especial, “Gracias a La Vida” e a alguns companheiros (as) com os quais outrora compartilhei momentos semelhantes aos que vivi nesses dias, como: Simão, Álvaro, Ivete, Síria, Luiza de Marilac e Marcelo Veloso, do Centro Nordestino de Animação Popular do Recife; Garotos/Garotas e Educadores Sociais do Projeto Reculturarte, nos idos de 1989 a 1996 no Bairro América, em Aracaju; Kaká Werá, educador, escritor e pajé, natural de São Paulo; Alcino Ferreira e o chileno Clemente Lizana (in memoriam) da equipe Habeas Corpus do Recife; Zé Vicente, artista, ecologista, mistico - gerado no ventre das comunidades eclesiais de base do Ceará; William Valle, mestre focalizador de danças circulares de Belo Horizonte; Irene, natural do Pará, minha amada, cúmplice dos sonhos e projetos da construção de um novo homem e de uma nova mulher - sementes para outro mundo, - e Marcelo Barros, monge beneditino e escritor do mosteiro da Anunciação do Senhor em Goiás, que participa de cerimônias inter-religiosas como a realizada no primeiro dia e em outros momentos da Caravana em Sergipe e que tem feito um importante trabalho de critica aos fundamentalismos e fanatismo religioso que tantas desgraças vêm causando à vida de milhões de pessoas.
P.S.: O texto acima, publicado originalmente no portal overmundo, foi escrito após o término da primeira etapa do projeto de intercâmbio da Caravana Arcoiris em Aracaju. Naquele momento(março de 2007) estive assessorando o diretor do Centro de Criatividade, Isaac Galvão, e em razão disso fui designado para acompanhar as atividades da Caravana, ajudando em especial na articulação com outros orgãos de governo, imprensa, entidades da sociedade civil etc..
Em 13 de junho de 2007 quando fui empossado como diretor do Gonzagão, foi realizado uma inesquecivel cerimônia inter-religiosa aproximando elementos cristãos e amerindios, sob a coordenação do Padre José Soares e da Verônica Sacta da Caravana Arcoiris.
No final do mês de agosto a Caravana Arcoiris passou a se hospedar no Gonzagão e coordenou oficinas de circo, dança para adolescentes, rodas abertas de diálogo, exibição de filmes, participou de reuniões do Consórcio Cultural, circulos holistico, ofereceu suporte logistico nas áreas de equipamentos audiovisual e transporte.
Tudo isso até meados de fevereiro de 2008. Quando a maioria dos seus integrantes se despedem rumo a Recife, deixando o casal Iris e Colores que continua conosco, prosseguindo a oficina de circo, que agora conta também a parceria da ong Secirco e dando inicio a oficina de dança-yoga.
Esta última para nossa alegria e surpresa em menos de um mês, tendo inico em fevereiro de 2008, superou a meta prevista de 30 participantes inscritos e assiduos.
TRECHOS DO RELATÓRIO GERAL DE ATIVIDADES, NOS PARÁGRAFOS QUE SE REFEREM A CONTRIBUIÇÃO DA CARAVANA ARCOIRIS PARA O SUCESSO DA REVITALIZAÇÃO DO GONZAGÃO NO ANO DE 2007.
(...)A partir da chegada da Caravana Arcoiris em setembro, que já tinha participado em junho da posse do diretor do Gonzagão, através da participação em um ritual religioso de tradição indígena, foi iniciada a oficina de circo a partir do termo de parceria assinado com a Secretaria de Estado da Cultura. Com isso podemos iniciar efetivamente as atividades com oficinas culturais e INAUGURAR UMA NOVA TRADIÇÃO QUE TORNA O GONZAGÃO ESPAÇO DE REFERENCIA NA ÁREA DA ARTE CIRCENSE EM NOSSO ESTADO pelo envolvimento de aproximadamente 50 beneficiários (crianças, adolescentes e jovens) residentes na região e em outros bairros, com preponderância no caso dos jovens, para estudantes da UFS e da UNIT.
Durante aproximadamente 45 dias a Caravana Arcoiris também promoveu uma oficina com dança que reuniu um grupo de 15 adolescentes residentes no conjunto A. Franco.
O diferencial foi o compartilhamento dos referenciais da cultura de massa que as meninas e meninos traziam e o conhecimento da oficineira/educadora da Caravana que apresentou os movimentos coreográficos ligados a dança contemporânea, ao afro peruano e a dança do ventre.
O produto final desta oficina foi um espetáculo muito bonito, com seqüência em forma de colagem, dos vários ritmos e estilos praticados na oficina(...).
“Como foi bom e bonito poder ter realizado a parceria com a Caravana Arcoiris. Sem eles(as) a sensação que ficaria é de que o ciclo de revitalização do Gonzagão em 2007 não estaria concluído e a sensação de falta, de algo incompleto, inconcluso, ainda por fazer, seria péssimo.”
Abaixo confira em imagens, alguns momentos da Caravana Arcoiris no Gonzagão.
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