Observatório Sergipano de Politicas Culturais. Espaço de mobilização, articulação e (in)formação em politicas culturais
quinta-feira, 20 de março de 2008
Como unir Juventude e Tradição Cultural.
“ Um evento cuja temática e palestrantes me surpreenderam pela qualidade das suas experiências e da sistematização elaboradas por eles em cima das práticas artísticas e pedagógicas e pela forma como passaram para nós, de forma clara, sem cansar e com emoção”
Essas palavras proferidas por um participante do 3º Fórum Popular de Cultura que aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de Novembro sintetizam muito bem a impressão da maioria que estiveram presentes no Gonzagão, local que sediou a edição 2007 do Fórum.
Organizado pela Ong Ação Cultural e contando com o patrocínio do Programa BNB de Cultura o evento contou também com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura e reuniu no horário de maior concentração de público 80 pessoas, que assistiram a mesa redonda “Cultura & Inclusão” e 400 pessoas na mostra “Arte & Cidadania”.
Para os organizadores o mérito principal do evento foi fomentar o inicio da discussão a respeito da elaboração de estratégias para trabalhar com arte e cultura junto a crianças e adolescentes da periferia, cujas “mentes e corações” estão ocupadas com os ritmos e sons que estão na moda, em geral esta necessidade é citada por intelectuais, educadores e artistas, mas pouco é realizado neste sentido.
Conforme discutido durante o fórum não se trata de forçar os adolescentes a abandonar os gostos próprios ou “impostos” pelos meios de comunicação de massa mas, de conhecer e valorizar outros tipos de música, de movimentos, de sensibilidades.
Em termos práticos isso foi apresentando na mostra artística a partir da apresentação do resultado da oficina de dança desenvolvida pela Caravana Arcoiris, desde o inicio do mês de outubro, no Gonzagão, e que preparou um trabalho coreográfico em forma de colagem, onde os adolescentes envolvidos mostraram o que aprenderam de diferente: afro peruano, dança do ventre, contemporâneo e aquilo que eles conheciam: forró e dança de rua.
Essa mesma abordagem também foi destacada na oficina apresentada por Paula Gonçalves e Ketully Costa Leal, da Em Cena Arte e Cidadania, a qual mobilizou os participantes em torno da necessidade de construir coreografias partindo dos referenciais estéticos e históricos de cada um, sem perder de vista, evidentemente, a necessidade de agregar novos conhecimentos aos que eles possuem, reforçando as palavras de Clébio Correia de Araujo que mostrou a necessidade de darmos especial atenção ao processo de trabalho, pois se queremos preparar pessoas com autonomia, não obteremos esse resultado fazendo-os tão somente repetir os movimentos do coreógrafo ou os modelos de arte teatral concebidos pelo professor e/ou diretor.
Outras questões também foram apresentadas como a necessidade de organizarmos um programa de formação de agentes culturais para darmos continuidade e aprofundarmos algumas questões levantadas na discussão sobre as identidades, memória histórica e ação cultural nas escolas que foram apresentadas na discussão coordenada por Marcial Araujo Lima e Clébio Correia de Araujo, a propósito da experiência do projeto “ A escola como pólo cultural da comunidade ”, realizado com estudantes de escolas públicas de Maceió.
A propósito da apresentação desse tema o professor João Brasileiro, afirmou a coincidência sobre alguns questionamentos que estavam sendo feitas por ele e por alguns colegas da Escola Albano Franco, no bairro Santa Maria e a abordagem realizada por Marcial que muito o ajudará na condução dos trabalhos junto aos colegas e alunos da escola onde trabalha.
Outra proposta que teve boa aceitação foi a formação de mini-caravanas formada por agentes culturais para visitar-se mutuamente e desta forma poderem trocar experiências e fortalecer os laços de amizade e de cooperação.
Da parte da Ação Cultural a expectativa principal é que encontros com a metodologia do fórum, cuja característica principal é aproximar quem faz e que elaborou/ elabora reflexão sobre a prática, de quem já faz isso ou que quer ampliar os seus horizontes nesse sentido, sejam organizados por parte do gestores das Secretaria de Educação, Inclusão Social e Cultura, neste último caso os Encontros Culturais e Festivais de Arte que são realizados em várias cidades do estado, pode ser um espaço onde os temas e a metodologia dos fóruns populares de cultura podem ser incorporados.
Ao término do fórum a partir da avaliação com os participantes a opinião predominante é que as pessoas sentem necessidade de mostrar e conhecer experiências exitosas e cujos aprendizados possam ser incorporados por todos , afinal, unir juventude e tradição cultural exige muita disposição para o diálogo, abertura para o novo e/ou diferente, estudo e habilidade, pois como afirmou Marcial Lima “é simples, mas não é fácil”.
RECORTE DE TEXTOS QUE NOS SERVEM/SERVIRAM DE REFERÊNCIA PARA A DISCUSSÃO DO TEMA DO 3º FÓRUM POPULAR DE CULTURA.
“Somos mestiços. Não apenas etnicamente mestiços. Somos culturalmente mestiços. Dançando o Toré sob a lua; rezando numa igreja barroca de São Cristóvão; curvadas sobre a almofada para bordar; trocando objetos e valores nas feiras das periferias e do interior; depositando ex-votos aos pés dos nossos santos; dançando um gostoso forró pé de serra no Forró do Candeeiro; contemplando o mar e os coqueirais do alto da colina de Santo Antônio; dobrando o fole de uma sanfona numa noite de frio, no mês de junho; tocados pela décima corda da viola sertaneja; possuídos pelo samba de pareia da mussuca e pela dança de São Gonçalo; enfileirados nas Romarias da Terra e de Divina Pastora; o coração de tambores percutindo nos desfiles de 7 de Setembro; girando a cor e a vertigem das danças dos orixás; digerindo antropofagicamente o hip hop no caldo da embolada ou do repente. Somos irremediavelmente mestiços. A lógica da homogeneização nos oprime. Por isso gingamos o corpo, damos um passo e seguimos adiante como num drible de futebol ou numa roda de capoeira que, sem deixar de ser luta, tem alma de dança e de alegria."
Adaptação para a nossa realidade do texto introdutório do documento “A imaginação a serviço do Brasil” produzido em 2002 por artistas, intelectuais e gestores culturais e que serve de texto guia para os programas e projetos da gestão do Ministro Gilberto Gil a frente do Ministério da Cultura.
“ Como ampliar o trabalho de conscientização da juventude na perspectiva de valorização da cultura popular? Como produzir com qualidade e fortalecer a identidade cultural de nosso povo para atingir uma população com a mente massificada pela cultura de consumo imediato (a pasteurização cultural)? Como preparar pessoas competentes para trabalhar com cultura junto a crianças e jovens? Como incluir mais jovens nas ações culturais com o apoio da sociedade?”
Extraido da Carta Cultural da Periferia, produto final do 1º Fórum Popular de Cultura realizado em 2005 e organizado pela Ação Cultural..
O que queremos atingir através do resultado do trabalho com Arte:"
(...)Queremos que nossas crianças saibam valorizar a nossa cultura, que elas tenham historia para contar, para que também não sejam futuramente jovens desregrados, e para que esses jovens não se tornem adultos sem criatividade e sejam vozes de protesto contra o que a mídia joga aos seus filhos. danças que não constróem, não ensinam, nem os estimulam a pensar, não incentiva a sua criatividade. Para que não se construam pessoas sem objetivos; para que crianças que são concebidas não sejam rejeitadas desde o ventre, e para que vidas não mais se destruam.(...)"Extraído do relatório do 2º Fórum de Politicas Públicas do Conjunto Jardim. Tema: Arte e Cultura nos Rumos da Cidadania
04 de agosto de 2003 - Organizado pela Ação Cultural
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