Escrito por Natália Pesciotta
Setenta anos depois de um austríaco ter visto que éramos o país do futuro, já somos o país do presente. Quem desacredita que assista ao vídeo a seguir.
( confira: http://www.youtube.com/watch?v=hsk0I73RcsY )
Referência: Música Outros Viram, Gilberto Gil e Jorge Mautner (2008)
O que Walt Whitman viu
Maiakowscki viu
Outros viram também
Que a humanidade vem
Renascer no Brasil!
Teddy Roosevelt sentiu
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Todos disseram amém
A essa luz que surgiu!
Graças a uma matéria no IG, a data não passou despercebida: Brasil é o país do futuro há 70 anos. Foi em 28 de janeiro de 1941 que o autríaco Stefan Zweig publicou o emblemático livro Brasil, o País do Futuro, atribuindo a nomenclatura. Uma matéria Especial do Almanaque sobre as visões de gringos dessa terra, de Einstein a Brigitte Bardot, assim dizia de Zweig:
Em 1941, o austríaco Stefan Zweig mudou-se para Petrópolis, fugindo dos horrores da 2ª Guerra. Aqui lançou o livro Brasil, País do Futuro, um tratado de amor à terra que o recebeu. Sobre a chegada ao Rio de Janeiro, registrou: “Uma das mais fortes impressões da minha vida [...] nesta combinação sem igual de mar e montanha, cidade e natureza”. Para ele, estávamos destinados a ser “um dos mais importantes fatores do desenvolvimento futuro do mundo”, éramos “um país cuja importância para as gerações vindouras não podemos calcular, mesmo fazendo as mais ousadas combinações.”
Não foram só as paisagens deslumbrantes que impressionaram o austríaco. Em plena Segunda Guerra Mundial, ele ficou deslumbrado com a possibilidade de o País se desenvolver em paz, apesar de ter a formação de um caldeirão prestes a explodir: “Como poderá conseguir-se no mundo viverem os entes humanos pacificamente uns ao lado dos outros, não obstante todas as diferenças de raças, classes, pigmentos, crenças e opiniões? A nenhum país esse problema, por uma constelação particularmente complicada, se apresenta mais perigoso do que ao Brasil, e nenhum o resolveu duma maneira mais feliz e mais exemplar do que a pela qual este o fez (...) O Brasil resolveu-o duma maneira que, na minha opinião, requer não só a atenção, mas também a admiração do mundo.”
Impossível não lembrar de uma conversa com o poeta e filósofo Jorge Mautner, poucos meses atrás. Na entrevista ao Almanaque sobre a cultura e o potencial brasileiro, sem dúvida a palavra mais repetida foi “amálgama”. Assim chama a teoria que o tropicalista usa para explicar a fórmula secreta que embasbacou o austríaco: “É um conceito químico para a combinação de metais que cria um novo metal. Exatamente o que aconteceu aqui e que dá ao brasileiro uma capacidade de reinterpretar a cada segundo tudo novamente e, incluindo posições contrárias e opostas, alcançar o caminho do meio, o equilíbrio”. Mautner é direto: “Ou o mundo se brasilifica, ou vira nazista”.
Aí chega a parte mais emocionante: para ele, as profecias foram cumpridas. Já deixamos de ser o país do futuro para ser do presente: “Agora, no século 21, tudo isso se torna real, tanto para os brasileiros, quanto para o resto do mundo. Nós atingimos o momento. O Brasil é o gigante que se fingiu de invisível até então. É o ápice. Não é à toa que as Olimpíadas vão ser aqui, que a Copa do Mundo vai ser aqui. A palavra de ordem no mundo é ser como o Brasil”.
Foi com o antigo parceiro desde antes do Tropicalismo que Gil compôs Outros Viram, canção que abre essa postagem e lembra de Zweig e tantos mais. Citam Walt Whitman, um dos maiores poetas dos Estados Unidos, que no século 19 escreveu que “o vértice da humanidade será o Brasil”. Rabindranath Tagore, um grande filósofo do romantismo indiano, disse que “a civilização superior do amor nascerá no Brasil”. E por aí vai...
Gil explica, no vídeo, que fizeram a música para ir contra “essa crônica depreciativa que hoje tem grande nicho na imprensa brasileira e em outros setores.” Visivelmente se revolta: “Outros viram, gente extraordinária viu, e nós ficamos achando que não é? Que não seja, tudo bem, porque é construção... Mas que não pode ser? Como não pode ser? Por que não pode ser? A música é contra esses que não crêem no Brasil.”
E tento não esquecer nunca da lágrima que enseja escorrer no rosto de Gilberto Gil.
Fonte: http://www.almanaquebrasil.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10449:os-que-viram-e-a-quase-lagrima-de-gil&catid=12975:blog&Itemid=132
P.S. De bônus, só pra reforçar, segue uma pérola musical da safra do Gil das antigas, rara e pouco conhecida: Rebento (abaixo segue o link pro videoclip da música cantada pela Elis e super banda em Montreux 1979; em anexo, a letra)
http://www.youtube.com/watch?v=ok-W1EcdLkg
Outros viram
Gilberto Gil & Jorge Mautner
O que Whalt Withman viu
Maiakowscki viu
Outros viram também
Que a humanidade vem
Renascer no Brasil!
Teddy Roosevelt sentiu
Rabindranath Tagore.
Stefan Zweig viu também
Todos disseram amém
A essa luz que surgiu!
Roosevelt que celebrou nossa miscigenação
Até a considerou como sendo a solução
Pro seu próprio país
Pra se amalgamar
Misturar "melting pot" feliz
Não conseguiu pois seu Congresso não quis!
Rabindranath Tagore também profetizou
Ousou dizer que aqui surgiria o ser do amor
Um ser superior, civilização da emoção, da paixão, da canção
Terra do samba sim e do eterno perdão!
Maiacowski ouviu
A sereia do mar
Lhe falar de um gentio
De um povo mais feliz
Que habita esse lugar!
Esta terra do sol
Esta serra do mar
Esta terra Brasil
Sob este céu de anil
Sob a luz do luar!
Rebento
Gilberto Gil
Rebento, substantivo abstrato
O ato, a criação, o seu momento
Como uma estrela nova e o seu barato
Que só Deus sabe lá no firmamento
Rebento, tudo que nasce é rebento
Tudo que brota, que vinga, que medra
Rebento raro como flor na pedra
Rebento farto como trigo ao vento
Outras vezes rebento simplesmente
No presente do indicativo
Como a corrente de um cão furioso
Como as mãos de um lavrador ativo
Às vezes mesmo perigosamente
Como acidente em forno radioativo
Às vezes, só porque fico nervoso
Às vezes, somente porque eu estou vivo
Rebento, a reação imediata
A cada sensação de abatimento
Rebento, o coração dizendo: "Bata"
A cada bofetão do sofrimento
Rebento, esse trovão dentro da mata
E a imensidão do som
E a imensidão do som
E a imensidão do som desse momento
Um comentário:
Amigos. Assistam ao clip, emocionem-se com o Gil e leiam a matéria a seguir. A mim, de cá do outro lado do Atlântico, fêz imenso bem. Esse é mesmo um brasuca de responsa! Grande Gil, lindo Gil! Abraço amigo. Alvaro.
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