No dia 11de fevereiro do corrente ano, a cidade de Aracaju foi agraciada por belos cajus feitos em fibra de vidro e pintados por 11 artistas plásticos sergipanos e teve como mentor e curador o artista plástico Fábio Sampaio. O projeto foi uma grande sacada e, sem dúvida, vai embelezar a capital Sergipana, mesmo que o símbolo (caju) nada tenha de original, visto que, em décadas passadas, o saudoso artista plástico Eurico Luis pintou um caju com quase 2.00 metros de altura na entrada da ponte que dá acesso ao bairro Coroa do Meio. Há ainda outros cajus em frente o Iate Clube de Aracaju. Infelizmente, durante o lançamento dos novos cajus, se não me foge o conhecimento, nenhuma referência foi feita ao trabalho desse artista plástico que morreu há alguns anos.
Não é de se espantar o total esquecimentos das autoridades sergipanas com os artistas sergipanos, ainda mais quando já morreram. A exemplo do painel do mestre Jener Augusto, considerado um dos maiores artista do país, que está em total abandono no saudoso restaurante Cacique Chá; o painel de Houd que existia na parede de um hotel na praia de atalaia, foi substituído por uma pintura comum, entre outros patrimônios artísticos da nossa cidade que foram relegadas ao esquecimento.
Quando falo do esquecimento dos artistas mortos é para enfatizar também o esquecimento dos artistas que estão vivos e produzindo, mas não foram lembrados pela Prefeitura de Aracaju e pelo artista plástico Fábio Sampaio ao lançar o “Projeto Caju na Rua”. O que se questiona é sobre os critérios utilizados pela Prefeitura de Aracaju e pelo curador e artista plástico para selecionar o grupo de artistas para a feitura dessas obras. Obras ou serviços executados com recursos públicos têm que haver transparência. A sociedade precisa saber como e de que forma os impostos que ela paga estão sendo aplicados e, se os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos, estão sendo cumpridos, conforme recomenda a legislação brasileira.
Nada contra os artistas selecionados, pois são todos talentosos e merecem o nosso respeito. Mas, algumas perguntas não querem calar: O que tem a prefeitura de Aracaju a dizer aos inúmeros artistas plásticos que existem nesta cidade e que sequer tomaram conhecimento que tal projeto estava sendo realizado? Se o projeto era pintar uma escultura de caju, porque um escultor foi escolhido, em meio a tantos pintores existentes? Sem desmerecer o destacado profissional, que tem, na sua área, obras de altíssimo nível. Não importa! O projeto era de pintura e não de escultura. A escolha dos 11 artistas foi por afinidade pessoal? Se assim aconteceu, então, os princípios mencionados acima não foram respeitados.
Porque artistas que estão na ativa, produzindo e sobrevivendo da sua arte ficaram de fora do projeto, em detrimento de outros que não se tem notícias recentes de suas produções artísticas? Com raras exceções, a exemplo dos grandes artistas plásticos como José Fernandes, Fabião, Madureira e mais uns poucos, há no projeto, pintores que não fazem uma exposição há mais de cinco, sete, dez anos, seja individual ou coletiva. Salienta-se que o fato de um artista plástico não estar fazendo exposição não quer dizer que o mesmo não esteja produzindo, pois se sabe que as adversidades e dificuldades são muitas, inclusive a falta de recurso e de apoio, os impedem de estar na ativa de exposições.
Por essas e outras vamos continuar perguntando: porque somente apenas uma pequena parte foi privilegiada por critérios totalmente desconhecidos? Cadê o edital? Porque a sociedade aracajuana, parceira do projeto não tomou conhecimento e muito menos a maioria dos artistas? Por que não houve um concurso divulgado na mídia? Por que o edital não foi largamente divulgado e não previu a realização de um processo seletivo baseado nos princípios estabelecidos pela legislação? Afinal, fala-se que a cada participante pagou-se a importância de R$ 2.500,00. Óbvio que os artistas que participaram do projeto são talentosos, mas e o talento de tantos outros, no qual me incluo que não tiveram a mesma chance?
O artista Fábio Sampaio possui e-mail, facebook, orkut e a Prefeitura de Aracaju possui além da sua Home Page, vários meios de comunicação ao seu alcance, para dar publicidade dos seus projetos e empreendimentos à sociedade. Porque então, não se deu a devida publicidade?
Sinto-me, como cidadão e artista, no direito de escrever esse desabafo. Por isso corro o risco de ser tachado de despeitado ou coisa que o valha. Quem tem boca diz o que quer, e não me importo com isso, gostaria até mesmo de ser comparado ao “Boca do inferno”, não ligo... Eu diria que despeito não tenho, mas como artista e cidadão reclamo, pois, artisticamente nunca fiquei sem produzir. Tornei-me pedagogo para entender de didática do ensino e estou terminando uma pós em arte educação para poder melhor empregar o ensino das artes. Sou compositor, cantor, escritor e artista plástico, ilustrei livros, compus trilha sonora para curta metragem, fiz curso de teatro musical no Instituto Goethe em Salvador, diversas exposições coletivas e individuais, tenho obras decorando, entre outros lugares, todos os prédios de quatro condomínios residenciais na cidade de Aracaju e fiz no ano passado, o lançamento de um catálogo e uma exposição intitulada “O Encanto das Possibilidades” onde recebi elogios e até homenagem da Câmera de Vereadores, e reconhecimento fora do estado, Ufa! Ainda tenho tempo para tocar uma grife que só trabalha com estampas voltadas para o universo cultural.
Mas tudo isso não foi critério suficiente para o artista Fábio Sampaio se quer ter me dado a chance de participar e concorrer, em pé de igualdade, com os demais artistas aracajuanos, através de um processo seletivo justo e democrático. Sem falar de artistas maravilhosos que não ficaram sabendo do referido projeto. Segundo Fábio Sampaio está previsto a continuidade do projeto. Justificativa para os renegados a uma suposta segunda edição. Não importa se haverá outras edições, a questão é que a primeira já começou muito errada e se houver a segunda, tomara que aconteça de forma democrática e transparente.
Vicente Coda
16/02/2011
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