sábado, 12 de julho de 2008

Entrevista com Max Gehringer


Ewerton Martins Ribeiro · Belo Horizonte (MG) - fonte: www.overmundo.com.br
Max falou ao blog sobre o desenvolvimento de carreiras fora do mundo corporativo
Quando sobrou pra mim a tarefa de continuar tentando uma entrevista com o fodástico Max Gehringer, entrevista que há muito os colegas aqui da redação tentavam desenrolar para o house-organ de um de nossos clientes, de imediato eu pensei: “se os profissionais que trabalham aqui comigo na Assessoria de Imprensa (muitos deles também fodásticos) ainda não conseguiram a bendita, um inexperiente estagiário com pretensões à trainee como eu é que não vai conseguir”.
No entanto, dois meses e meio após o início das conversas, eu já estava editando as respostas oferecidas pelo Max aos meus questionamentos e me perguntando o porquê daquela descrença toda em mim mesmo. Pois veja só: além de conseguir a entrevista para o jornal corporativo, ainda vi o Max responder prontamente a uma entrevista exclusiva que lhe propus para meu blog pessoal sobre construção de uma carreira fora do mercado corporativo — ou seja: sobre uma possível futura carreira para este pretenso escritor.
A verdade é que, como o Max é “o cara” para falar sobre gestão de carreiras, pensei comigo: “por que não pedir a esse cara dicas para quem, como eu, não tem vocação para o escritório, mas que precisa e gosta tanto de grana quanto qualquer engravatado?”. Bem... arrisquei.
Mandei-lhe um e-mail propondo as entrevistas, brincando com o fato de elas terem uma importância especial para mim — afinal, uma exclusiva com Max Gehringer seria um incentivo e tanto para meus chefes me darem a tão aguardada promoção. E na verdade, não “seria”: foi. Entrevista já no meu disco rígido, assino trainee agora. Talvez não “só” por causa disso, mas muito provavelmente “também”. Segue a bendita abaixo.


Pretenso Literato: Minha pergunta tem a ver com quem, assim como eu, não deseja enveredar-se pelo mundo corporativo, mas sim por outros campos de profissão como Artes Plásticas, Música Popular, Literatura ou Circo, por exemplo. É possível para estas pessoas construir sistematicamente uma carreira tal qual se faz no mundo corporativo? Como?

Max Gehringer: A vantagem do mundo corporativo é a coletividade. Numa empresa, um empregado que executa uma determinada função pode ser substituído por outro, com escolaridade e experiência. No mundo das Artes, o que conta é o talento individual. O que existe em comum em dois mundos tão díspares é a necessidade de construir um bom networking. Uma mãozinha sempre ajuda, tanto para quem quer conseguir um emprego quanto para um músico que quer mostrar seu trabalho.

P. L.: Mas existem perspectivas de prosperidade financeira para quem deseja se lançar nestas carreiras menos formais? Pergunto porque algumas destas carreiras prescindirem em parte da formação acadêmica, ou de um “plano padrão” de desenvolvimento, como a inserção em uma grande companhia, o aprimoramento através de cursos etc.

Max: Ao contrário do mundo corporativo, em que uma carreira é progressiva, e vai sendo construída através dos anos, o mundo das artes requer habilidades que podem ser constatadas muito cedo. Um escritor que não tenha imaginação aos 20 anos não a terá aos 40. Qualquer pessoa que pretenda viver da arte deve ter em mente que, se nada acontecer até os 30 anos, dificilmente algo irá acontecer depois disso. Portanto, seria conveniente ter uma carreira paralela, em uma empresa formal, para o caso de o pendor artístico não resultar em um meio de vida.

(Pensamentos inevitáveis deste pretenso literato: “Faço 27 anos em novembro. Merda! Tenho apenas três anos para ‘acontecer’, ou meu destino acabará sendo engordar a barriga atrás da mesa de uma ‘repartição’. Putz, agora ferrou!”).

P. L.: Qual seria então, neste caso, “o caminho das pedras”? Ou melhor: existe um caminho das pedras para estas situações?

Max: Um bom exemplo é o dos palestrantes profissionais. Temos cerca de 10 mil deles no Brasil, sendo que 80% são palestrantes eventuais (professores, consultores e profissionais de empresas que fazem duas ou três palestras por ano). Dos que sobram, não mais que 50 conferencistas conseguiram fazer das palestras uma atividade rentável, o que muita gente estranha, já que falar parece ser a coisa mais simples do mundo. Esses poucos montaram um material diferenciado e possuem carisma suficiente para manter uma platéia ligada durante duas horas. Quando muitos tentam e tão poucos conseguem, a resposta é a que a maioria não gosta de ouvir: a de que o talento que a pessoa imagina ter é menor do que os eventuais contratantes enxergam nela.
(Pensamentos mais que inevitáveis: “Não me fala que eu não quero ouvir! Não me fala que eu não quero ouvir!”).

Então é isso. A verdade é que gostei tanto do lance das entrevistas que, de agora pra frente — se a sorte e o acaso me ajudarem a conseguir entrevistados bacanas como este —, frequentemente vou publicar uma entrevista interessante em meu blog. (Talvez nem sempre com um caso engraçado antes, vá lá, mas sempre com o foco relacionado à pauta do blog).

* Max Gehringer é dos maiores especialistas do Brasil em carreira e nas regras do mundo corporativo, além de estar tirando do prelo o seu nono livro sobre o mundo empresarial: “Emprego de A a Z”. Max escreve semanalmente para a revista Época, dá dicas na rádio CBN e mantém um quadro fixo no programa Fantástico.

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