sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O falso poema de Drummond que circula na Internet

13/02/2009
fonte: portal IG

Em meio à discussão sobre o BBB9, quinta-feira, aqui no blog, um leitor que assina Valdeir postou, a título de comentário, um longo texto em forma de poesia, intitulado “Recomeçar”, assinado por Carlos Drummond de Andrade. O texto começa assim: “Não importa onde você parou… em que momento da vida você cansou… Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…”. Em outra passagem, lê-se: “Um novo curso… ou aquele velho desejo de aprender a pintar… desenhar… dominar o computador… ou qualquer outra coisa… Olha quanto desafio… quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando”.

Algumas horas depois, ainda pegando fogo a discussão sobre o BBB, o leitor que assina Bruno enviou a seguinte mensagem: “Não consegui achar uma referência concreta, mas aposto a minha cabeça que o poema supracitado num dos comentários NÃO é do Drummond. Pelo amor de Deus, parem de disseminar textinhos toscos de auto-ajuda vagabunda como se fossem obra de grandes autores!!! E se o texto de fato for do Drummond (probabilidade ínfima), então ele escreveu coisa ruim também, porque este é sofrível. Mauricio, por favor, não deixe isso passar impune aqui. Propagação de ignorância é crime, e seu blog não é lugar pra isso.”

Estimulado por Bruno, resolvei investigar. A simples menção no Google a Carlos Drummond de Andrade e “Recomeçar” traz quase 27 mil citações. Há inúmeras versões do poema recitadas em vídeo, no You Tube, e em centenas de sites e blogs. Pesquisando mais, acabei chegando ao site “Meu Anjo”, mantido pelo programador Paulo Roberto Gaefke. Ali, é possível ler que o texto, na verdade, é de autoria do próprio Gaefke. Bem humorado, ele respondeu ao e-mail que enviei, em busca de um esclarecimento: “Drummond deve revirar na tumba ao ver o meu texto com o nome dele”, disse.

Autor de dois livros de poemas, publicados por conta própria, o programador mantém o site desde abril de 2000. Até 2002, assinava as suas mensagens apenas com um bordão – “eu acredito em você” – e o seu primeiro nome, Paulo. “Daí virou uma festa”, ele conta. “Cada um repassava acrescentando um ponto e diversas mensagens minhas (mais de 2 mil) estão por ai sem a devida paternidade… como ‘Revolução da Alma’, que atribuem a Aristóteles (sic), ‘Paciência’, atribuída ao Jabor, e a clássica ‘Recomeçar’ (que também é conhecida por ‘Faxina na Alma’)”.

Para surpresa de Gaefke, ao final do seu texto, em algum momento no ano de 2003, alguém acrescentou os versos “Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura” e assinou “Carlos Drummond de Andrade”. Tal citação foi entendida como se o texto inteiro fosse de Drummond, e se espalhou como praga pela Internet. Mas, lembra o verdadeiro autor do texto, nem esses versos são do poeta mineiro, mas de Fernando Pessoa (estão em “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro).

Conta Gaefke: “Quando eu pesquisei no Google a primeira vez, tomei um susto. Esse texto estava em mais de 50 mil sites com autoria de Drummond. E para provar que era meu foi uma briga…”. Registre-se que, pesquisando na Internet, encontrei várias mensagens de Gaefke em blogs e sites que publicaram o seu texto como sendo de Drummond, alertando os autores para o engano.

Encerro, então, este post com a reprodução do belo poema de Caeiro:

VII - Da Minha Aldeia
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Enviado por: Mauricio Stycer - Categoria(s): Cultura, Internet

Enviado por: Zé Afonso

lixo de escritor, lixo de professor e lixo de pessoa.

13/02/2009 - 12:45

Enviado por: edinardo

Na época de Drummond já tinha computador?

13/02/2009 - 12:47

Enviado por: edinardo

Em outra passagem, lê-se: “Um novo curso… ou aquele velho desejo de aprender a pintar… desenhar… dominar o computador…

13/02/2009 - 12:52

Enviado por: Zudgard Paes Coelho

Concordo com o leitor Edinardo - “na época de Drumond ja tinha computador?” - vamos parar de usar nomes de escritores e poetas de renome para se fazerem

13/02/2009 - 12:57

Enviado por: Reinaldo Borges

Tornou-se uma febre na internet lançar textos, poemas e poesias com os nomes dos autores errados, e o mais triste é que muitos não o fazem apenas por desconhecimento ingênuo, pelo contrário, por pura má-fé e disseminação de informações errôneas. O que dizer do belo texto “Felicidade Realista” de Martha Medeiros, que atribuem insistentemente a Mário Quintana? Nem todo brasileiro pode comprar livros e ter acesso às fontes bibliográficas seguras, assim a internet se torna único recurso para se obter conhecimentos e novos saberes, contudo acabam sendo lesados por meia dúzia de desocupados.

13/02/2009 - 13:00

Enviado por: Felipe

Não é o caso de Gaefke, mas muitos autores que estão começando agora e sobrevivem no anonimato assinam seus textos como obras de grandes autores…
E a causa disso é a falta de credibilidade à VERDADEIRA cultura do Brasil, não a inútil vista todos os dias num programa de tv como o BBB.

13/02/2009 - 13:15

Enviado por: Tatiana

Obrigada por demonstrar nesta matéria a importância da pesquisa. Pq eu sou uma pessoa que recebo vários textos e sempre fico na dúvida se realmente é do autor mencionado. Mas por comodidade, nunca me interessei a buscar informações que pudessem confirmar a verdadeira autoria.
Claro, nao posso deixar de dizer que esses textos são lindos (mesmo seguindo a linha de auto ajuda) e fácil colar e copiar e encaminhar para mil pessoas…. Mas gostei do que li aqui por um simples detalhe. Preciso sair do meu comodísmo e pesquisar mais.
Obrigada pela dica.
Beijos

13/02/2009 - 13:20

Enviado por: Cacá

Mauricio, misturar Drummond em discussão de BBB já é desqualificá-lo demais. Eu tô cansado ver e receber esses e-mail de listas em que os textos são atribuídos a L.F. Veríssimo e Arnaldo Jabor. Uma lástima.
Paz e bem.

13/02/2009 - 13:29

Enviado por: Carlos Drummond

O que é imortal não morre no final.

13/02/2009 - 13:29

Enviado por: Cesar

A conclusão é simples: poucos conhecem Drummond, é só isso.
Quem sabe agora, mãos à obra gente!

13/02/2009 - 13:33

Enviado por: Cesar

Ah, não se esqueçam que Ana MAria Braga tem publicado um livro com uma série de frases de filósofos mas é ela quem assina o livro, se isso pode …

13/02/2009 - 13:39

Enviado por: janciron

Sou tão grande quanto ao que meus olhos alcançam! Ai esta; gostei não me importa quem escreveu! Agora vocês querem ver um autor ser idolatrado, e fazer sucesso no Brasil e no mundo? Grana, muita grana em divulgação! Já vimos muitos artista plástico e escritores pobres, que só depois de morrer no anonimato, tiveram seus trabalhos reconhecidos!

Vou aproveitar o gancho e deixar uma lembrança, quem sabe eu tbm não bata as botas! rsrsrsr!

DECADENTES DEVANEIOS

Uma infância inocente, um coração pulsando forte.
Entre sonhos e devaneios, festas e fantasias.
O uirapuru nos alegrava, com os gorjeios do seu cantar.
E no riacho cristalino, fazíamos festas a nadar.
Canta, canta uirapuru.
Desperte com seu cantar, um país jovem varonil.
Que crê na ordem e progresso, e tem o nome de Brasil.
Nascer, crescer, semear fraternidade, paz e amor.
Todo dia, é dia de ser feliz, amem…

Mas nossos antepassados acreditaram em acordos, para nossa conveniência.
Não se falava em maldade, e o bem era definido.
Criamos um elo e manietemos a nós mesmos.
Ao nos vermos subjugados, aceitamos tais imposições.
Muitos tentaram quebrar estes elos.
Buscavam liberdade e independência.

E mesmo num clima conturbado.
O uirapuru cantava triste e distante.
Mas o riacho ainda era cristalino, transparente e borbulhante.

Impossibilitados de preservá-lo, como parte da natureza.
Alguns Chicos sucumbiram, pagando altos preços.
Outros Mendes, cheios de fé e esperanças, logo as perderam.
Caminhos violentos e tortuosos dobraram suas vontades.

E o uirapuru já não existe, e se existe está sumido.
E os riachos cristalinos, tornaram-se córregos poluídos.

Tiranos que se impuseram, através de suas fórmulas.
Mais tarde também serão, vítimas do que semeiam.
Em suas sementes contêm, ambição ao poder.
Intenção de possuir, se apossar e escravizar.
Tanta voracidade…! Por pura vaidade! Que pena…! Tudo ilusão!
Como crianças gananciosas, se tornaram insaciáveis.
E mesmo com a boca cheia, e as mãos abarrotadas das melhores porções.
Ainda têm olhos compridos, nas migalhas dos semelhantes.
É humilhante, e me revolta. O tempo passa indiferente…

Crianças se tornam adultas, em meio à violência.
Esperam a qualquer momento, que marginaizinhos.
Criados pelo sistema, lhes de um tiro… Melhor assim.
A conviver com a fobia, de se tornarem velhos e decrépitos solitários.
Abandonados no mundo, sem amor, sem esperanças e sem fé no futuro.
Os que acreditaram, estão tendo decepções.
O sistema castrou seus sonhos, e a muitos assassinou.

E do uirapuru, já não se ouve mais o cantar.
E no riacho, outrora cristalino, não é possível mais nadar.

Mas surgem novas vidas.
E as esperanças se renovam, em corações puros e inocentes.
Mas o cantar do uirapuru, eles não mais ouvirão.
Nem poderão dar um mergulho, no poluído ribeirão.

Cabia a nós. Chinfrins pentacampeões do mundo.
Por questões de ética e justiça.
Discordar da política do pão e circo.
E entregar aos nossos descendentes, tudo o que herdamos.
Senão melhor, nas mesmas condições que encontramos.

Eu tenho pátria, e a pátria é a mãe de um povo.
Mas tem filhos que são da pátria.
E tem filhos que são da P…
Confundindo patriotas com idiotas.

O desabafo acalenta e acalma as aflições da dor doida que dói na alma.

A mente contaminada pela ilusão material, é um solo fértil, onde germina a semente do engodo, da ganância e injustiça; que são os alicerces de destruição da humanidade.

Autor independente: janciron@hotmail.com
Janciron

13/02/2009 - 13:43

Enviado por: Zé Afonso

Normal o Maurício Stycer escrever essas merdas.. Vcs n viram o lixo de aula que ele dá!!

13/02/2009 - 13:49

Enviado por: Robinson Damasceno dos Reis

Conheci Drummond, itabirano como eu e sei que ele, cético e algo pessimista, JAMAIS escreveria uma porqueira dessas. A não ser que, no além, as almas voltem para o jardim de infância.
Aqui, no caso, um jardim de infâmias…

13/02/2009 - 13:49

Enviado por: Prof. Mauricio Braga

Há séculos (milênios?) autores desconhecidos assinam suas obras tomando nome de outros autores. A causa mais provável dessa falta de bom senso é um fato inegável: um bom texto assinado por um desconhecido é facilmente desprezado por incultos (e até por certos pseudo-intelectuais).

O nível de certificação de uma pessoa não garante boa formação (já vi muitos mestres melhores que pós-doutores e livre-docentes), mas pode provocar nela uma certa arrogância cultural: “Eu só leio Pessoa” “Eu adoro Bandeira”, e por aí vai…

Mas é fato que somente um leitor crítico e proficiente é capaz de enxergar (em qualquer texto) qualidades e vícios que vão além da assinatura, afinal, dia após dia presencio declarações de amor a Machado de Assis e escárnios contra Paulo Coelho, mesmo sendo poucos os que tenham lido suficientemente a ambos.
Nas aulas de literatura da USP, perguntei a alguns professores o que achavam do Paulo Coelho; um deles respondeu:
“É terrível, cheio de erros de português”
“Você leu quantos livros?”
“Na verdade nenhum! Eu comecei e desisti”

Suspirei e pensei: “Se um professor livre-docente em literatura se julga no direito de ‘odiar’ um autor sem ler seu material, o que dirá daqueles que pouco sabem sobre ‘direitos, deveres e ética’?

13/02/2009 - 13:56

Enviado por: Tiago

quem c importa???
arruma um assunto d verdade

13/02/2009 - 13:57

Enviado por: Gisele

Pior eu que comprei uma daquelas poesias em adesivo para colar na parede como sendo do Fernando Pessoa e, no final, era uma compilação de frases do Augusto Cury! Que mico!

13/02/2009 - 14:04

Enviado por: Hugo C. N Mota

Para quem pergunta se na época de Drummond já existia computador: Ele morreu em 1987 com 85 anos. O computador já existia desde a II Guerra Mundial e o computador pessoal existe desde dos anos 70. O Apple I foi lançado em 1975 e o Apple II em 1977. O mesmo primeiro computador foi um TK 90X (um Spectrum) lá por volta de 1986.

13/02/2009 - 14:06

Enviado por: Rebeca

Muitos criticam o verdadeiro autor. Poucos sabem fazer melhor…

13/02/2009 - 14:08

Enviado por: Washington

Outro dia, pesquisando poemas de Victor Hugo, deparei-me com “Desejo”, atribuído ao grande escritor francês.
Desconfiado, fui pesquisando, até descobrir que o cantor Roberto Freja tinha gravado uma música com grande parte deste poema (música que foi utilizada até em progaganda do Banco do Brasil co ma voz de Freja).
Pois bem, continuando minha pesquisa fui descobrir que o poema é do escritor gaúcho Sérgio Jockyman.
Vai saber como se deu a mudança de Kockyman para Victor Hugo nos Créditos do poema que. na verdade, chama-se Votos?
E o pior: a música de Freja é assinada por ele e por Mauricio Barros/Mauro Sta. Cecília.
Pobre do Sérgio Jockyman, primeiro tem seu poema atribuído a Victor Hugo, depois o Freja o musica sem mencioná-lo.

13/02/2009 - 14:15

Enviado por: Zelão

Aí seus manés ignorantes, já está na hora de parar de assistir esta “joça” de Bib Brother Brasil e começar a ler, afinal o que falta no brasileiro é cultura….e “classe”.

13/02/2009 - 14:25

Enviado por: Valdson Gonçalves de Amorim

Quem troca a leitura e a pesquisa em livros (incluindo enciclopédias) por “navegação” na “Grande Rede - Internet”, que todos sabemos ser terra de todo mundo e, portanto, terra de ninguém, corre o risco de ser enganado.

13/02/2009 - 14:25

Enviado por: Poeta

Palavras… só palavras. Se cabeludas ou não, pouco importa: todas se perderão no tempo. Ou ao vento.

13/02/2009 - 14:44

Enviado por: John

” Oh pequena batata
que se espalha pelo chão
a infante enquanto dorme
põe a mão no coração…
Linda menina (o?) semeie as batatas da terra
Então não haverá mais fome no mundo”

seria de Wilde, Oscar?

13/02/2009 - 15:06

Enviado por: Ângela

Quando vi este poema em muitos sites sendo de Drummond fiquei despontada, não pelo seu “desvalor”, mas porque não tem a “cara” do Drummond. Vejo muitos textos também de Clarice Lispector. Coitada da Clarice… Cabe a nós, leitores de bons autores, saber fazer um diagnóstico preciso sobre a veracidade deles. Mas isso não é tão difícil não.

13/02/2009 - 15:20

Enviado por: Sérgio

Simplesmente lametável…

13/02/2009 - 15:41

Enviado por: Luiz Sérgio

O caso mais curioso foi a crônica “Quase”, atribuído erroneamente a Veríssimo. Ficou tão famoso que foi traduzido para o francês, com o título “Presquè” e mereceu um belíssimo texto do mestre, que faz uma crítica bem humorada sobre a internet e a divulgação indiscriminada de textos apócrifos, mas creditados a nomes conhecidos da literatura.

13/02/2009 - 15:44

Enviado por: Marcella

Zé Afonso!
Especialmente para vc:

lixo de avaliação, lixo de comentário e lixo de vc!

13/02/2009 - 16:12

Enviado por: J.Barros

Rebeca o caso em pauta não é nem a qualidade do texto e o uso indevido do nome de outro autor, você gostaria de ver um texto escrito e assinado com o seu nome? eu não gostaria, por mais estrito que fosse.

A internet cabe tudo não ha pesquisa de quase nada que é postado qualquer um cria uma nova teoria tirada do nada, quase tudo é LENDA URBANA - agora a moda é o virtual já que tudo é virtual vamos continuar cada vez mais idiotas e acreditando em tudo que é postado.

Eu sou J.Barros ou não? quantos de vocês são reais?

13/02/2009 - 16:16

Enviado por: Darcy Brito

Nunca achei que aquele poema tivesse o perfil do Drumont. É por isso que não podemos confiar em pesquisa de internet.

13/02/2009 - 16:20

Enviado por: Sacerdote

Não é porque o texto não é de Drummond que vamos ridicularizar o que outras pessoas escrevem. Cada um tem seu espaço, seu estilo, e cada um tem quem admire o que se escreve. Afinal, não é atoa que o texto rodou muito. Se fez tanto sucesso, tem lá seus motivos.
Ele não é Drummond, mas é gente e está tentando.
Pra falar de Drummond não precisa ridicularizar ninguém, pois a poesia de Drummond fala por si.
Sacerdote.

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