quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Entrevista de Aldo cedida ao Caderno de Cultura do jornal CINFORM, sobre o resgate do Carnaval de Rua em Aracaju.

Aracaju, 15 de fevereiro de 2009

1. Você gosta de carnaval?
Adoro o carnaval, especialmente o de rua onde há fantasia, encanto, ritualidade e liberdade. No carnaval podemos nos despir das máscaras sociais cristalizadas dos papéis cotidianos e vestir máscaras do impossível: posso ser Obama ou o Dalai Lama! Bush nem na fantasia! È um delicioso desencouraçamento poético-político-corporeo-existencial!!! (risos).

2. Você já brincou em Recife ou Salvador, por exemplo?
Já brinquei vários anos em Recife e Olinda. Magnífico carnaval, especialmente Olinda, onde se proibiu sons elétricos. As bandinhas populares e o povo é quem inventa a festa e o carnaval na rua. Inclusive já encontrei várias autoridades públicas de Sergipe brincando carnaval lá, até o nosso atual prefeito nas ruas de Recife quando ainda era vice. Acho que, com todo respeito, esse ano ele fica por aqui! Tem um ótimo bom gosto e vai querer caranguejar (risos). Salvador nunca me atraiu pela apartheid que há entre a arte e os foliões (quem pode em cima, quem não pode abaixo, quem pode dentro, quem não pode fora). Carnaval de Salvador, no roteiro trio elétrico, é a metáfora e a expressão da exclusão e da desigualdade social.

3. Qual é o grande barato de sair no Caranguejo da Meia-Noite*?
O Caranguejo da Meia-Noite é uma festa de rua, que já traz no nome a nossa raiz. As raízes aracajuanas não se encontram no solo, encontram-se no mangue. As raízes do manguezal são aéreas, respiram fora do chão! Aracaju nasceu do mangue e o caranguejo ainda é o nosso animal de poder, o nosso totem. Apesar de "caranguejo", não haverá tabus: "cordas". As cordas de caranguejo ficam pro "pré-carnaval". Para mim tudo que tem "pré" parece pejorativo: "pré-histórico", por exemplo, não havia "história" antes da escrita? Absurdo...(risos). O caranguejo da Meia-Noite é um grito de liberdade e resistência, sem cordas e cheios de vitalidade e amor. As cordas privatizam o espaço público da rua. A rua é de todos e não só de quem pagou. Nós usamos os verdadeiros "abadás". Abadá é uma palavra yorubá, eram as batas brancas usadas pelos escravos mulçumanos trazidos ao Brasil. Os capoeiristas usavam para demonstrar seu preciosismo, o abadá continuava alvo depois da luta. O abadá virou então sinônimo de luta e tradição, assim como o nosso Bloco Ecológico Caranguejo da Meia-Noite, que, aliás, inicia-se as 18:00 e termina a meia-noite para respeitar a lei do silêncio, desrespeitada há mais de quinze anos pelo pré-carnaval. Fazemos um resgate inclusive da ética e da solidariedade.

4. Você considera importante resgatar essa tradição do carnaval de rua em Aracaju?
A cultura de um povo nunca morre, é enterrada viva. Só é cavoucar um bocadinho que ela renasce forte. Nosso caranguejo carnavalesco entrou nos mangues e sobreviveu aos concretos das construções e aos camarões virulentos de outros lugares. Não queremos só resgatar o carnaval, mas a exuberância dos nossos mangues e da nossa fauna. Queremos a revitalização, a saúde e beleza de nossos rios, onde os pescadores dançam com suas redes, de onde também tiramos o nosso alimento para ficarmos mais fortes para a dança da carne, para a dança da vida. Viva o Bloco Ecológico Caranguejo da Meia-Noite! A gente se vê lá! Evoé! Namastê! Arrevouir !

Aldo Rezende de Melo
(Psicólogo, Sociodramatista, Instrutor de Yoga, Pesquisador de Cultura Popular, Multiplicador do Teatro do Oprimido e Brincante do Caranguejo da Meia-Noite).


*CARANGUEJO DA MEIA NOITE

Pelo segundo ano consecutivo o Bloco Ecológico Caranguejo Elétrico faz o seu grito de Carnaval na 13 de Julho para os amantes do frevo, da marchinha, das caretas, do confete e da serpentina. É o Projeto Resgate dos antigos carnavais de Aracaju. É um grande momento de todos.
Convidamos todos os foliões sergipanos para trazer suas fantasias, mascaras, caretas, confetes e serpentinas e entre nesta grande farra da alegria.
O evento acontecerá dia 19 no mirante do calçadão da 13 de julho tendo inicio as 18 horas encerando a meia noite obedecendo a lei do silencio, o horário de descanso.
Não é necessário abadá, nem tão pouco pagar alguma coisa, é só chegar e entrar.
A animação ficará por conta de três bandas carnavalesca de nossa capital: bandinha do Gugu, Orquestra Carnavalesca Cajuínas e a Guita Freva, uma espécie de couver da banda Dodô e Osmar.
São 6 horas de muita folia








"O sonho pelo qual brigo exige que eu invente em mim a coragem de
lutar ao lado da coragem de amar" (Paulo Freire)

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