A trupe do teatro do oprimido aterrisou no Gonzagão! (E seria ótimo que acontecesse outras vezes!).
Logo na primeira parte da manhã, recebemos os primeiros artistas, que chegaram com material de figurino, adereços de cena e alguns trabalhos de desenho, pintura e escultura. (Gostei de ver a presença de muitos adolescentes no grupo!).
Ao viajar para Cristinápolis, cidade localizada na fronteira com a Bahia, para participar de um evento que reunia algumas dezenas de militantes sociais, oriundos de diversos cidades de Sergipe e principalmente da Bahia, também fiquei alegre ao perceber a presença ativa de jovens envolvidos com a organização do evento.
Por conta do atraso, não pude chegar a tempo de participar da primeira apresentação pública que foi realizada na noite da sexta, mas consegui na noite do sábado.
Ao chegar, na manhã de sábado, cumprimentei Aldo e Helen, responsáveis pela coordenação do evento aqui em Sergipe.
Falei e ouvi com entusiasmo que muitos milagres estão acontecendo no cotidiano, processos e acontecimentos que aparentemente não tem nada de extraordinário, mas que para serem entendidos/percebidos desta maneira, é preciso que se veja e se escute com o coração, com o espírito.
Gostei muito de ouvir que há um “campo vibratório” positivo no Gonzagão que concorreu para que tudo estivesse dando certo.
E em retribuição a esse e outros agradecimentos que foram dirigidos ao Secretário da Cultura e equipe; ao diretor do Gonzagão e equipe, vale a pena dizer que os agradecimentos bem podem ser dirigidos para o universo e a sua conspiração sutil e progressiva que é feita a partir do pensamento e da ação amorosa e gentil de milhões de seres humanos que desejam e constroem a felicidade, em diversas áreas e de diversas maneiras, seja como artistas, políticos, religiosos, estudantes, jornalistas, cientistas, pensadores, escritores, operários, camponeses, professores etc. como também na condição de crianças e jovens ou de mulheres e homens de diferentes povos e culturas.
Alguns se tornaram ou estão se tornando mais conhecidos como Boal, Gonzagão, Benhard Wosien, Alberto Ruz, Madre Tereza de Calcutá, Paulo Freire, Pedro Casaldáliga, Gandhi, Bolivar, Sepé Tiaraju, Tupac Amaru, Rigoberta Menchu, Marina Silva, Ivone Gebara, Mãe Menininha do Gantois, Rose Marie Muraro, Verônica Sacta, Profeta Gentileza, Chico Xavier, João XXIII, Dalai Lama e tantos mais.
Já outros milhões, estão repassando e cuidando das sementes que foram plantadas em seus corações e que aos poucos vão tecendo uma rede de gente livre e bem amada, mostrando que nós, seres humanos, podemos viver com mais beleza e na busca constante por justiça.
E neste sentido, qual a contribuição mais potente que o Teatro do Oprimido pode nos dar? Percebo que é restituindo o direito de expressar os nossos desejos e necessidades na cena teatral.
Afinal, para sustentar o sistema perverso de dominação capitalista, as classes dirigentes não apenas cercam e se apropriam das terras, mananciais de água e de outras fontes de energia, como também estabelecem poderosos controles mentais e institucionais para cercear o direito de nos expressarmos e de nos comunicarmos.
Dentre tantas, a separação entre platéia e expectador, seja no teatro, como na dança, é um dos meios mais eficazes para sustentar a passividade, o comodismo e a alienação.
Lembrando um trecho de uma música de Gilberto Gil, “Quem dera, pudesse todos os homens compreender, oh mãe! Quem dera”, reafirmo que é necessário investir mais tempo, mais recursos materiais e financeiros e a nossa Inteligência para podermos criar mais ambientes de fraternidade e paz, os quais, sem sombra de dúvida, contribuirão para diminuir o mal-estar que sentimos ao nos deparamos com tantos conflitos e ameaças que comprometem a permanência da espécie humana e dos outros seres vivos, como navegantes dessa nossa querida nave mãe-terra.
Vale lembrar que estes ambientes de fraternidade e paz não significam fugir da realidade e negar que vivemos em meio a uma série de contradições tanto no plano pessoal, como no plano das relações sociais, econômicas e políticas. Não é por acaso que todos os exemplos de homens e mulheres citados são protagonistas de uma série de ações de construção da paz em movimento, o que significa travar uma luta diária no cotidiano e sofrendo as conseqüências dessa opção.
P.S.: A inspiração para o titulo deste texto é baseada em uma das minhas músicas preferidas, composta por um cearense “bom danado, uma cara levado da breca”, como diz o ditado popular. O bom danado e levado da breca fica por conta das qualidades desse ser humano, poeta, cantor, músico, místico, ecologista e arte-educador popular, batizado com o nome de José Vicente.
O nome da música é “Eu som bem mais”. Também me acompanhou na escrita desse texto a lembrança de versos de uma música do querido e inesquecível Gonzaguinha, dentre eles:
“Nós podemos muito, nós podemos mais”
Para mim, esta é a síntese do que significa o Teatro do Oprimido.
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