Um dos focos da política cultural sergipana
Por Eloísa Galdino*
Há algo novo na política cultural sergipana, uma forma nova de olhar e tratar a cultura. Não, não deixamos de entendê-la como o conjunto de referências simbólicas que caracterizam as sociedades, formam identidades e influenciam os nossos fazeres nas mais diferentes áreas. Também não deixamos de acreditar e trabalhar pela preservação dos nossos acervos material e imaterial, por nossa memória e por nossa história. Mas resolvemos - de olho no que já acontece internacionalmente - tratar a cultura para além das suas dimensões estética , moral e sociológica; e passamos a trabalhar a cultura também em sua dimensão econômica e produtiva. Em outros termos, incorporamos o conceito de Economia da Cultura às ações da Secretaria de Estado da Cultura – Secult. E o que isso significa?
Primeiro, aqui cabe uma contextualização a partir de um dos temas mais debatidos no século XX: a indústria cultural. E lá se vão 45 anos desde que Umberto Eco azeitou esse debate com o clássico “Apocalípticos e Integrados”, no qual o pensador italiano, com propriedade, evidenciou os equívocos do que se convencionou chamar de “duas alas” da Escola de Frankfurt. O ponto crucial dessa discussão sempre foi os efeitos da indústria cultural sobre a cultura popular, a erudita, e o constante anseio pela preservação dos valores culturais mais legítimos das sociedades. Era, em verdade, um debate sobre o que aconteceria com as sociedades a partir da “mercantilização” da cultura.
O tempo passou e essa discussão foi mais ou menos superada, abrindo espaço para outros debates sobre o tema. Nesse ínterim, ela, a cultura, mostrou sua capacidade de superar as visões apocalípticas, adaptando-se aos novos tempos, linguagens e formatos da sociedade da informação. A cultura se mostrou capaz de fazer-se e refazer-se sem nunca perder a sua força; e foi capaz de incorporar novos fazeres para se dizer digital, dialogando com a aldeia global para divulgar práticas e manifestações das mais variadas tribos. Esse percurso trouxe, também, o entendimento da cultura como um dos setores economicamente dinâmicos e ativos da nossa sociedade.
É disso que trata a Economia da Cultura, conceito novo e com uma relação direta com outros conceitos (igualmente novos) , como é o caso da Economia Criativa e/ou do Conhecimento. Trata do entendimento de que a cultura também produz negócios, movimenta a economia, gera emprego e renda e pode, portanto, ser encarada como um vetor do desenvolvimento sustentável das mais variadas sociedades. E isso com um traço que faz toda a diferença: por “alimentar” a alma, o pensamento e a reflexão diante do mundo, a cultura é um setor da economia que pode e deve contribuir para a inclusão social e para o avanço da sociedade da informação.
É assim que encaramos a cultura, como um setor estratégico para o desenvolvimento econômico e social. É por isso que estamos pegando régua e compasso para desenhar o nosso projeto de Economia da Cultura, assumindo, enquanto Governo, o papel de articulação, fomento e regulação da política estadual de cultura.
Queremos romper com a clássica cena dos nossos produtores e artistas com o “pires na mão” a pedir ajuda para as suas produções. Assumiremos o nosso papel de tratar a cultura como política pública, mas de uma forma que possamos estimular a formação, a capacitação e o desenvolvimento das cadeias produtivas que essa área pode engendrar. Queremos plantar a semente de um movimento cultural autônomo, com conexões claras e legitimas com o setor produtivo, seja através dos incentivos fiscais, seja através do apoio ao empreendedorismo.
É longo o caminho a trilhar em busca da consolidação de uma nova política cultural. Ela não é pra já, mas precisamos começar. Delimitamos os objetos e o espaço geográfico: preservação do patrimônio e turismo cultural, em São Cristóvão e Laranjeiras. A ideia é fazer das nossas cidades-patrimônio modelos de desenvolvimento a partir da cultura, estimulando a preservação do seu acervo pela própria comunidade que habita nessas cidades.
Em total sintonia com os princípios que norteiam a política cultural desenvolvida pelo Ministério da Cultura, queremos que as populações das nossas cidades-patrimônio possam se apropriar do seu potencial turístico. É uma visão que busca trabalhar uma ampla cadeia produtiva que vá do brincante ao empresário, todos articulados, movimentando a cidade, fazendo circular produtos, ideias e dinheiro. E o mais importante: todos juntos preservando nosso patrimônio, nossa identidade e nossos valores culturais, porque toda essa riqueza estará produzindo emprego, renda, inclusão, e, principalmente, cidadania.
*Secretária de Estado da Cultura de Sergipe
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