Nas décadas de oitenta e noventa, Sergipe festejava o São João em quase todo Estado, era um grande arraial de alegria, fogueiras, quadrilhas, quentão e muita comida típica. Areia Branca acendia a fogueira mais cedo e se transforma na capital forró, para onde multidões se deslocavam atraídas pelo calor do forró, porque era primeiro de junho e o festa estava apenas começando, sem hora pra acabar, e só terminava, lá pro dia trinta! Com o São Pedro de Capela e Muribeca.
Se formos enumerar as cidades que faziam um grande São João, com grandes estruturas de palco, som, luz, arraiais, diria que quase todas as cidades sergipanas celebravam as festas juninas. Sergipe se enfeitava e se vestia para festejar o São João como ninguém, de Norte a Sul, e para esquentar e animar a festa, estavam lá, artistas sergipanos, nossos forrozeiros e alguns nacionais, levando alegria e muito forró com sotaque sergipano. A música sergipana passava por um momento de grande efervescência com os nossos forrozeiros, artistas e bandas, cantando as coisas da gente, difundindo o nosso São João para o Brasil e pro mundo.
Em Aracaju haviam vários polos com grandes estruturas de shows, concursos de quadrilhas e outros eventos. Os mais importantes eram: O Gonzagão, Rua São João, Centro de Criatividade, Praça do Siqueira Campos, Arraial do 18 do Forte, Arraial do Bugiu, Arraial do Bairro América, os barracões culturais, eram vários palcos onde os artistas sergipanos faziam seus shows, divulgavam seus trabalhos, enfim, era uma corrida louca para dar conta de tantos shows em Aracaju e no interior do Estado, o tecido da cadeia produtiva e criativa da música estava em movimento gerando emprego e distribuindo renda. Nossa riqueza circulava aqui mesmo, éramos mais ricos financeira e culturalmente, pois, os recursos públicos eram gastos com shows, em sua maioria, de artistas sergipanos, que garantiam a festa.
No calor da fogueira, em seu primeiro mandato, o então prefeito Jackson Barreto criou o Arraial do Povo, hoje, Forrocaju, mal sabendo ele que estava criando o Bicho Papão, que iria engolir todos os palcos de Aracaju, e de quebra, o forródromo de Areia Branca, que sucumbiu para dar lugar ao MEGA, BIG, FORROCAJU. O impacto na cadeia produtiva e criativa da música em nosso Estado, foi sentida de imediato. Os artistas sergipanos que faziam, durante o no mês de junho, de vinte a trinta shows, passaram a fazer, no máximo, três shows, todos os palcos em Aracaju, foram desmontados para dar lugar a mega estrutura montada na praça de eventos Hilton Lopes, com capacidade para receber milhares de pessoas todas as noites, que enchiam os olhos do então prefeito Marcelo Déda, encantado com tanta gente para matar a sua fome voraz de poder, porque o poder quer gente, o poder come gente e conseguir reunir tanta gente em um só lugar, fazer um discurso na abertura e ainda, de quebra, anunciar as atrações nacionais, era o êxtase. Enquanto isso, doía na alma dos artistas sergipanos ver um São João que se espalhava e que já estava enraizado por toda a cidade, resumido a um único lugar, a um único show, em um único palco que não reflete o verdadeiro São João, porque tem um formato que não traduz a nossa festa maior e que não se diferencia de outros palcos em outras festas promovidas por prefeituras e pelo Estado porque acabou com o São João do Gonzagão, Rua São João, Bugiu, Siquera Campos, 18 do Forte, os barracões culturais, com o circuito de quadrilhas por esses espaços e até o forródromo de Areia Branca. Hoje, o que se vê é um formato burro de um show atrás do outro debaixo de chuva, sob bandeirolas de plástico coloridas e uma cidade despida do que foi um dia o orgulho de um povo que teima em manter suas tradições, sua cultura, ignoradas pela classe política que entra na festa pra bagunçar e dar o tom, dizendo quem canta e quem não canta nos palcos armados com o nosso dinheiro, passando por cima da nossa dignidade desrespeitando os fazedores de cultura, em nome de um projeto político, porque lhe é conveniente criar espaços públicos para milhares de pessoas e achar que somos massa de manobra.
Não queremos acabar com o Forrocaju, porque é uma conquista nossa. O que queremos é que a o São João de Sergipe, em particular o de Aracaju, seja repensado, discutido com a sociedade civil organizada, que faça circular a produção cultural sergipana, que estimule a cadeia produtiva e criativa da música, fazendo com que a cidade volte a festejar o São João nas suas comunidades, que distribua renda, que a cidade se vista das cores e dos motivos juninos, para que a gente se veja em nosso fazer cultural, porque o ego e o interesse político não pode se sobrepor identidade cultural de um povo.
Jorge Ducci
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