segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ana de Hollanda & Jô Soares: Reportagem crítica

Fonte: Cultura e Mercado

Jair Alves | sexta-feira, 17 junho 2011

Cercada de alguma expectativa, a ministra da Cultura Ana de Hollanda foi entrevistada neste 14 de junho no Programa do Jô. O evento precedido de episódios ainda não inteiramente esclarecidos, para uns se transformou numa decepção pelo que foi discutido em dois blocos do programa. Para outros, como nós que acompanhamos a gravação dos bastidores, uma grande incógnita. Como se comportará a maioria dos artistas profissionais, diante de tamanha visibilidade? Como se comportarão membros do atual Governo Federal, Partidos da base aliada, até mesmo a Presidenta Dilma que esteve grudada na televisão durante a exibição da edição de terça-feira?

Se levarmos em consideração que esse encontro tão esperado tinha como personagem um artista como Jô Soares: ator, escritor, artista plástico, diretor teatral, apresentador e humorista, umbilicalmente ligado desde a década de cinqüenta às Artes e a Cultura (produções cinematográficas, como as chanchadas da Atlântida); coadjuvante das transformações da televisão brasileira, como autor e ator de programas a exemplo da Família Trapo que se inscreveu na história da Tevê na década de sessenta; vendo e participando de perto dos eventos mais importantes da Música como os Festivais da Record; mais tarde, 70 e 80, nos programas humorísticos da Globo e, nos últimos anos desde a década de 90, entrevistando “Deus e o Mundo” madrugada adentro veremos que mesmo com discordâncias ele é uma das poucas referências na Cultura Nacional. Como bem lembrou um outro entrevistado da noite, não existe cultura sem memória. Sem Passado não se tem identidade! O encontro tinha tudo para entrar na história. O resultado, no entanto, poderá ser outro dependendo da avaliação que se fizer desde já.

Como nasceu essa pauta?

Depois de ininterrupto bombardeio durante quatro meses desferidos por inimigos ocultos ou desconhecidos e sem nenhuma expressão como a legião de “ativistas virtuais” que se autodenomina “defensores dos Artistas Nacionais”, Ana de Hollanda veio a São Paulo para dialogar com as categorias profissionais. Nesse ataque covarde e desproporcional não faltou abaixo-assinado pedindo “a cabeça” da Ministra (em nome exatamente do quê?). Para estancar a sangria foi preciso a própria Presidenta colocar uma pedra no assunto com um recado à Ana, “Resista, Resista”. Finalmente no mês de Maio de 2011, a bancada paulista do PT resolveu colocar em campo seu exército para acalmar os “aventureiros” – o governo não poderia suportar tamanha afronta. Sem vínculos partidários um pequeno grupo de artistas e intelectuais lançou um modesto manifesto em defesa da Ministra e da Cultura Nacional, conhecido como CartaAlerta. Uma copia foi enviada por nós à produtora do Programa do Jô, Anne Porlan. A soma de signatários, insignificante é verdade se comparada à “carta golpista” engordada artificialmente pelos “militantes virtuais” sem nenhuma relação direta com a produção Artística e Nacional. Essa é a origem do programa de terça-feira. No dia 11/05 Anne Porlan ligou para o nosso celular solicitando ajuda para chegar até Ana de Hollanda, relatando um episódio no mínimo surrealista, lembrado por Jô Soares nesse primeiro bloco. Ele mesmo havia ligado para a Assessoria do * MINC, e quem na oportunidade era responsável pela imprensa simplesmente interpretou o telefonema como uma “pegadinha”. Por certo, o funcionário não tem idéia da força que representa os artistas brasileiros e todos os assuntos que lhes dizem respeito. Daí achar que um telefonema do titular do programa estaria fora de qualquer propósito. Quando Jô lembrou esse telefonema, primeira “saia justa” enfrentada por ela, Ana bebeu tanta água que quase se afogou. Pena para alguns! Ana, conhecida como “chapa-quente” em outras circunstâncias a entrevista poderia entrar para a galeria dos grandes “barracos” da tevê brasileira. Porém, o que se viu foi um programa de Encontros e não de Desencontros. Estavam entre amigos, e tudo “acabou em samba que é a melhor maneira de se conversar…. ”

Como transcorreu a entrevista

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Visivelmente pouco à vontade no primeiro momento, a ministra Ana de Hollanda foi à personagem central no programa Jô Soares nesta última quarta-feira (14 de junho) e por essa razão Marcos Azambuja, um Diplomata brasileiro atualmente membro do Conselho ** IPHAN foi pautado para ser entrevistado nesse mesmo dia. Logo de início Jô Soares, com fortes dores no nervo ciático daí sua aparente falta de energia, tocou na questão da aprovação de uma proposta da cantora Maria Bethânia, por parte do MINC (na verdade, *** CNIC) inclusive mencionando que a mesma teria desistido do projeto. Sobre esse tema que acabou mobilizando e pautando por algumas semanas a imprensa de uma forma geral (escrita e virtual), a ministra respondeu de forma técnica e eficaz até porque não cabe a ela decidir sobre o que é aprovado ou não. Restou saber se, de fato, as explicações causaram algum interesse do grande público. De qualquer forma, ao menos serviu para clarificar que existe um enorme abismo entre o que acontece nos bastidores e o que deveria saber esse imenso número de pessoas. Aos poucos, a entrevista foi ganhando contornos de uma metáfora sobre nossa realidade com ar de dramaturgia “pirandelliana”.

Anteriormente a isso, a ministra presenteou Jô Soares com um seu CD afirmando que não estava ali como cantora e justificando que antes não havia tido à oportunidade para o gesto. Ele, então lembrou o fato de ela ser irmã do compositor Chico Buarque de Hollanda, mas que naquele momento o assunto era outro dizendo que tinha à impressão de a Pasta da Cultura ser a mais difícil de administrar. Perguntou se ela esperava enfrentar o bombardeio que aconteceu, logo no início que assumiu o ministério e qual teria sido a razão de ela ter sido tão boicotada e se essa atitude não tinha uma conotação política partidária? A ministra afirmou que naturalmente sabia que encontraria dificuldades, pelo fato de lidar com opiniões diferentes e egos deparando com pensamentos e idéias próprias, embora tudo tenha sido mais violento do que esperava. Mencionou ainda a criação de uma nova Secretaria (Economia Criativa) e fez questão de falar sobre a parceria com outros ministérios, entre eles o da Educação. Encerrando o primeiro bloco Jô Soares adiantou que, além da questão Bethânia ainda falaria com sobre outros assuntos.

Embora havia apontado, não iniciou o segundo bloco com as perguntas, fazendo questão de apresentar um vídeo ao lado da ministra onde ela aparece cantando a música “No Rancho Fundo” (de Ary Barroso e Lamartine Babo – 1931), e só depois iniciou outra etapa de perguntas. A primeira questão, como estão atualmente os recursos do Ministério? Em relação a isso ela afirmou que fora gastos com pessoal e despesas físicas, está em torno de 806 milhões e muitos restos a pagar, mas que estão trabalhando em conjunto com parcerias e patrocínios como a Petrobrás, **** BNDS. Há também no Ministério os programas do ***** PAC II, passado pela presidenta, ao todo 800 praças a serem instaladas em zonas carentes bibliotecas, auditórios, assistência social. Ainda com outros ministérios, como o da Educação, com estudantes do Ensino básico e médio; Ciência e Tecnologia, além das Secretarias que lidam com o cidadão (Integração Social, Direitos Humanos, Secretaria da Mulher, e também a ***** GEL. Sobre Direitos Autorais ela explicou que a decisão final cabe ao Congresso, com posterior sanção da Presidência, informando que no final de dezembro o projeto de reformulação foi encaminhado à Casa Civil pela gestão anterior. “Assim como acontece com os demais projetos de outros Ministérios, são devolvidos a nós para avaliação, endossando ou não. Eu o examinei com a nova equipe de Direitos Autorais, e resolvemos aprofundar melhor algumas áreas como a de música, cinema, fotografia, literatura, teatro, solicitando que recebesse mais contribuições para em seguida fechar em cima de novas propostas e encaminhar ao ****** GIP Depois ele volta para a Casa Civil e Congresso Nacional, que dará a palavra final”.

Acompanhar a discussão que dominou corações e mentes dos “Internautas”, desde os primeiros movimentos e culminando com estar presente de corpo e alma na gravação da entrevista foi revelador. O Estúdio nas dependências da TV Globo-SP é parecido como uma fábrica de sonhos, dando a sensação que a partir de agora, sim, vamos conversar com algum equilíbrio sobre Cultura Nacional, porém como nos sonhos e na memória o resultado acaba tendo uma outra dimensão. Até o momento dezenas de críticos e/ou oportunistas pegaram carona na nomeação de um membro da família Buarque de Hollanda (como lembrou a deputada Telma de Souza), sem medir conseqüências danosas de algo parecido com o achincalhe por quase um semestre e, agora, vemos que nada se parece com o espetáculo de vaidades produzido artificialmente tinta gasta, postagens, e discussões virtuais a respeito vira pó. Mas, o que importa no momento é o que está registrado em imagens como certa vez disse Mario Schenberg, “Esse encontro valeu pelo que não foi dito”. Somadas as campanhas de prós e contras à Ana de Hollanda, o que vale a partir de agora é o “Programa do Jô”. Ou Melhor, o que não foi discutido. Quem sabe a generosidade que sobrou na noite de 14 de junho sirva para estimular gregos e troianos, horácius e curiácius, Caims e Abels, a se lançar em busca de um diálogo sério e franco. Paradoxalmente, nessa semana o jornalista Bob Fernandes, comentando a respeito de uma carta protocolar enviada ao ex-presidente FHC pela Presidenta Dilma, sugeriu que desde já abandonássemos a radicalidade que só interessa aos extremos (o lado ruim da vida Nacional que ganha relevância nas disputas eleitorais, segundo o jornalista) para ouvir o que de melhor existe de um lado ou de outro. Quem sabe esteja aí o caminho abandonado lá atrás, quando tanques, baionetas, e câmaras de tortura silenciaram os acordes dissonantes inventados no início da segunda metade do Século passado.

Resta saber se, de fato, a entrevista desta terça feira tem ou não relevância histórica. Vendo com os olhos da razão, parece que sim!

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