Fonte: O Tempo - Fabiano chaves
Trata-se do maior acervo sobre conteúdos que envolvem o universo negro brasileiro, como manifestações políticas, sociais e artísticas; com registros que remetem ao início dos anos 1980, realizados pelas produtoras Enúgbarijo Comunicações, do artista Ras Adauto e de Vik Birkbeck, e da Cor de Pele Produções, de Filó Filho e Carlos Alberto Medeiros.
"Desde essa época já nos conhecíamos, mas cada um registrava os movimentos com o seu olhar. Registrávamos tudo o que acontecia em relação ao movimento negro, que começava a despontar no país", conta Filó Filho, que já fez parte da Banda Blac Rio.
Ao longo dos anos, as duas produtoras realizaram uma rica diversidade de imagens sobre acontecimentos no Brasil. A visita do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, em 1987, no Rio de Janeiro; do líder Nelson Mandela, em 1992; a chegada do ícone do soul James Brown ao aeroporto do Galeão, também na capital fluminense, em 1988; depoimentos de artistas como Gilberto Gil, Elton Medeiros, Zezé Motta, Pelé, entre outros, sobre o centenário da abolição da escravatura no Brasil; os bastidores da filmagem do clipe "They don’t really care about us", de Michael Jackson no Pelourinho e no morro Dona Marta. Todo esse material, registrado em VHS, estava arquivado e quase se perdendo devido a ação do tempo.
"No fim dos anos 1990, muito desse material já demonstrava uma certa carência nas imagens, algumas já mofadas. Nos unimos e decidimos recuperar o material", diz Filho.
Segundo o produtor, o ponto de partida para o resgate do conteúdo que ele e Vik Birkbeck já haviam feito começou, em 2001, quando realizaram uma filmagem sobre uma conferência internacional contra a xenofobia e racismo, na África do Sul.
"A participação nesse projeto culminou com o resgate do acervo que, a princípio, foi realizado de VHS para VHS. Com a tecnologia dos dias atuais, o formato ficou obsoleto e fomos batalhar recursos para digitalizar esse material", afirma.
Nesse sentido, Filó Filho e Vik Birkbeck conseguiram apoio da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, com um orçamento de R$ 300 mil para digitalizar o acervo e criar o portal.
"No final do ano passado, conseguimos os recursos junto ao governo.De certa forma, esse momento (o da criação do portal) fecha um ciclo que começou há quase 30 anos" , destaca Vik Birkbeck, cineasta britânica radicada no Brasil há 35 anos.
No total, são mais de mil horas de gravações que serão disponibilizadas no portal. "Até o momento, não incluímos nem 1% de todo o acervo que temos. Há muita coisa ainda para entrar no ar", afirma Filó Filho.
De acordo com ele, o material será disponibilizado no Cultne diariamente e o volume de conteúdos certamente ultrapassará o arquivo da dupla, já que o site permite que o público interessado contribua com seu material, analógico ou digital, para enriquecer o portal.
Um dos aspectos mais importantes da iniciativa é o seu caráter democrático. Vik e Filó sempre tiveram como diretriz a disponibilidade e acessibilidade dos conteúdos para toda a população.
"De nada adiantaria criar um portal com um acervo rico da cultura negra no Brasil se isso não fosse de domínio público. Essa era uma questão fundamental", diz Vik, que coloca o vídeo sobre a marcha negra no centro do Rio de Janeiro, em 1988, como um de seus preferidos. "Aquele foi um momento muito importante na militância negra".
Assim, qualquer pessoa pode acessar a página do Cultne, se cadastrar, e baixar gratuitamente os vídeos lá disponibilizados. Para compartilhar o conteúdo, todos eles ficam hospedados no YouTube, em vídeos de até dez minutos.
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1616&IdCanal=4&IdSubCanal=&IdNoticia=137380&IdTipoNoticia=1
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