terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O natal e a e_terna criança que nos habita.

Zezito de Oliveira · Aracaju (SE)

http://www.overmundo.com.br/banco/o-natal-e-a-e-terna-crianca-que-nos-habita-1Leia o texto através do link acima para ter acesso as fotos e aos links correspondentes.

No ano de 2007. conheci um excelente texto sobre o natal, do teólogo Faustino Teixeira, e resolvi divulgá-lo para os amigos (as) como mensagem de natal, acompanhado de um comentário da minha autoria.
Já em 2008, elaborei um outro texto e em todos eles a combinação da espiritualidade do natal, a qual é marcada pela esperança, com a defesa da arte como canal para transmitir e fixar essa esoerança em todo o nosso ser, através dos sentidos e da emoção, sem deixar de lado a razão, é claro!
Neste ano de 2009 a história se repete. Porque todo os anos, o menino Jesus renasce para nos lembrar aquilo que a gente nunca deve se esquecer. É para o amor que fomos criados e a nossa humanindade ainda não é obra pronta, e somente completando a nossa humanidade, obra do criador, é que chegaremos mais perto Dele.


Inicio
Nos finais dos anos 70 e início dos 80, ainda adolescente e morando no Rio de Janeiro, me recordo com muita satisfação do hábito de comprar o jornal de domingo, inicialmente O Globo, depois o Jornal do Brasil (JB). Após a leitura, guardava alguns recortes. O tempo passou e poucos restaram. Isso em razão de algumas mudanças de endereço, inclusive aquela realizada do Rio para Aracaju, no ano de 1982.

Mas, dos poucos recortes que ficaram guardados em minha memória, um deles era uma reportagem de natal (no JB), com destaque para a reprodução de um bilhete do pintor das marinhas, José Pancetti, endereçado à sua filha.

O bilhete, reproduzido com a letra do pintor e com o desenho que o acompanhava, falava da preocupação de Pancetti com a questão da injustiça social que distanciava algumas crianças de outras.

Dizia Pancetti à sua filha que era necessário que ela não se esquecesse de que na noite de natal, enquanto estaria participando de uma ceia farta de comidas e guloseimas e recebendo brinquedos caros, muitas crianças estariam comendo muito pouco ou quase nada e seus brinquedos estariam reduzidos àqueles que a sua imaginação poderia fazer com os restos do material que seus pais ou elas catavam no lixo.

Com isso, o pintor estava começando a querer ver sua filha envolvida pelo cuidado com aqueles que não dispunha de tantas oportunidades como ela.

Naqueles fins de 70 e início dos 80, o grupo musical Secos e Molhados irrompia na cena musical com um jeito de cantar e de se apresentar que marcou a vida de quem os viu nascer.

Das músicas do grupo, Rosa de Hiroshima já faz parte do nosso imaginário musical brasileiro. Como no bilhete de Pancetti, a letra de Rosa de Hiroshima, da autoria de Vinicius de Morais, nos convida a lembrar das crianças vítimas do sofrimento. No caso dessa composição, o sofrimento gerado pelas guerras.

Agora, a partir do segundo semestre de 2009, além do meu trabalho como produtor cultural, voltei para o convívio com adolescentes em uma escola da região metropolitana de Aracaju, conjunto Jardim, e várias cenas me fazem recordar o bilhete de Pancetti e a música Rosa de Hiroshima.

Numa dessas cenas, por mais de uma vez me deparei com um menino cego, guiado por sua jovem e bela mãe dentro do ônibus, vindo de uma escola para crianças especiais em Aracaju.

Em outras cenas, dentro da escola, vejo crianças e adolescentes com muita necessidade de atenção, tanto no campo dos conhecimentos próprios de cada matéria, como nos aspectos emocionais, afetivos e éticos.

Vejo e sinto também que elas respondem de forma positiva quando a gente mostra que pensa neles(as) considerando todos as suas necessidades e, quando enxerga e valoriza suas potencialidades .

Um exemplo disso foi a comemoração do meu aniversário em novembro, quando quatro turmas de alunos(as) se organizaram para celebrá-lo, com direito a fila de uma das turmas na porta da entrada da escola, para nos cumprimentar, com abraços e beijos.

E aí me lembrei de um aniversariante muito especial que poderia ter nascido em um lugar cheio de luxo e brilhos e preferiu nascer em um lugar bem simples para nos lembrar da necessidade de olharmos com muita atenção para quem ainda não dispõe dos meios necessários para uma vida de plenitude.

Ao mesmo tempo em que nasceu em um local adverso, Jesus de Nazaré nos quer mostrar que isso não significa que ele e todos nós, inclusive as crianças e adolescentes residentes nas periferias de nossas cidades, não tenhamos guardado dentro de nós um potencial grande de carinho, criatividade, beleza, alegria, gratidão e solidariedade.

Depende de nós, cultivarmos estes valores em nós e utilizarmos todos os meios possíveis para que sejam semeados nos corações e nas mentes de todas as nossas crianças e jovens, para que possam se materializar em atitudes e ações de bem estar e felicidade geral.

E sei que por meio das linguagens artísticas, do esporte e das novas tecnologias podemos fazer isso do modo mais eficaz e com a urgência que os sofrimentos do nosso tempo requerem.

Para concluir, reafirmando tudo isso, lembro do trecho de uma música que marcou a minha adolescência, tornando-se uma das minhas preferidas: “Sim é como a flor: De água e ar, luz e calor, o amor precisa para viver, de emoção e de alegria e tem que regar todo dia(...) No jardim da vida, já plantei um pé de esperança, fruto da vivência, é a consciência”.

Pensem nisso, pensem em Jesus de Nazaré, pensem nas crianças que estão próximas e distantes de vocês, pensem na criança que habita dentro de vocês, pensem nas crianças que vocês foram. Vez em quando.

P.S: O ano de 2010 é ano de eleições, por isso peço a vocês que irão participar que não deixem de pensar na hora de votar nos compromissos dos candidatos com atitudes, muito além das palavras e promessas de campanha, com a ampliação e qualificação dos investimentos necessários em favor da educação integral de nossas crianças e jovens.

A despeito dos avanços que estamos obtendo, faz-se necessário ainda muito mais esforços para tornar realidade o sonho e a luta de diversas gerações de brasileiros que colocaram suas vidas a serviço de uma nova escola, lugar por excelência para a construção de um futuro melhor. Para isso, precisamos dispor de professores bem renumerados e preparados para lidar com as transformações do tempo presente, as quais para o bem e para o mal, repercutem na vida de todos nós.

Além de equipamentos e prédios adequados para as necessidades que “rugem”, destacamos dentre estes: construção de auditórios e salas arejadas, bem iluminadas e com cadeiras e mesas que não deformem o corpo; quadras cobertas, com banheiros e vestiários; laboratórios; espaços de convivência; áreas verdes, piscinas e salas multiusos para práticas artísticas, equipamentos de som, imagem e informática.

Faz-se necessário também investimento maciço em formação continuada para os professores e funcionários saberem lidar com os novos saberes e práticas necessárias para a educação do futuro, que é agora!

Dedico esse texto à minha mãe e a meu pai, que me alimentaram com muito afeto, carinho e consciência ética, sem os quais teria sucumbido, aquilo que diz o texto de uma música muito tocada nas rádios ultimamente. “O mundo quer lhe ver chorando, ouso dizer e apenas clamando”.

Dedico também aos mestres: Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Frei Betto, Rubem Alves, Leonardo Boff , Marcelo Barros, Eduardo Galeano, Alberto Ruz, e Reginaldo Veloso, que me ensinaram a certeza de que nós somos os braços, as pernas, enfim, o corpo do Deus-Amor que quer vida em abundância para todos.

Esses mestres também me ensinaram/ensinam a escrever da forma como o faço.

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